No fundo, os homens oprimem as mulheres por se sentirem minúsculos diante delas?

“Caetano Veloso diz que não inveja da mulher o sexto sentido, o parto ou a capacidade de fazer duas coisas ao mesmo tempo. Ele inveja o orgasmo múltiplo. Eu acho que orgasmo está bom um e depois outro. Não é trágico. Já maternidade é demasiado milagre para que alguém fique de fora. O homem não tem nada de parecido, fica ridículo comparado com mulher. O homem constrói, a mulher gera. Caetano, que amo, tem de convir que maternidade é quase absurdo. Tudo quanto homem faz é da ordem da tarefa, mas mulher tem esse momento de deus. Ela é deusa e cria. Isso não se esgota no corpo. O principal segredo do gênero surge exatamente aí: a identidade da mulher, até por imposição biológica, é coletiva. A mulher entende isso com uma profundidade natural bem mais pacífica do que entende o homem. O amor faz de nós um coletivo. A biologia não retira dos pais a impressão profunda de que eles existem também nos filhos, mas a biologia intensifica na mãe essa ideia. A mãe acredita que o filho é uma magia do seu próprio corpo, como um lugar seu, para sempre seu. Através do filho, a mãe parte. Não sabe se volta, volta apenas um pouco, ela ama como quem vai embora (…).
Pai também, mas nosso sentido de identidade coletiva é bem menor. Isso é um desrespeito da natureza para com o gênero. Homem usa a cultura para suprimir o que não tem e a biologia deu apenas às mulheres. Ser homem é lindo e pobre. Somos pobres, participamos uma nesguinha na exuberante experiência humana, que claramente favorece as mulheres.
É claro que não será possível criar paz definitiva entre os gêneros. Não há equilíbrio de verdade. Não há justiça. O mundo, ironicamente, é um padrão feminino. O planeta é menstrual, com seus sismos e abalos, a sua fertilidade sempre ostensiva e regeneradora. O que faz o homem senão ficar convencido de que, pela força, domina? O homem urge na conquista, a mulher simplesmente é. Eu não tenho qualquer dúvida, os gêneros não detêm em partes iguais o mistério da humanidade. As mulheres são a parte larga, maior. O homem é uma redução humana. Uma simplificação. A humanidade é muito mais definida pelos atributos impressionantes da mulher do que pelos atributos humildes do homem. Pensem bem. Com profunda cobiça o digo, as mulheres são a humanidade, os homens são seus acessórios. Umas armaduras otimizadas para guardar sementes.

Trecho de Segredos de Gênero, artigo do romancista Valter Hugo Mãe

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