John Lennon da Silva

O jovem goiano faz sucesso na internet e na TV com um solo que une o balé clássico à dança de rua


A cena se encaixaria perfeitamente num filme de Hollywood, daqueles sobre esforço pessoal, superação e blablablá. O rapaz pobre, alto e magrelo decide encarar um concurso televisivo que apontará o bailarino mais hábil do país e o premiará com uma bela quantia em dinheiro. Minutos antes de iniciar a coreografia que preparou para as eliminatórias, baseada num solo refinadíssimo do cardápio erudito, o jovem amarga a descrença de um dos três jurados. “Você vai se exibir dessa maneira?”, pergunta a moça sensual e atrevida, referindo-se às roupas informais do concorrente: tênis de skatista, calça largona, camiseta estampada. O garoto, um tanto ressabiado, diz que vai, claro. E a moça: “Espero que você se saia bem, porque o figurino…” Ele ocupa, então, o centro do palco e se entrega à música delicada. Mal encerra a apresentação, vê que a moça está boquiaberta e que outro jurado o aplaude de pé. O terceiro, justamente o que cultiva a fama de carrasco, não disfarça as lágrimas.
Ainda que digno de um melodrama, o episódio aconteceu de fato. John Lennon da Silva – o rapaz em questão, filho de uma beatleamaníaca nada enrustida – resolveu participar do programa Se Ela Dança, Eu Danço, que o SBT transmite às quartas-feiras. Natural de Goiânia, mora num bairro operário da zona leste paulistana, onde divide uma casa simples, de apenas três cômodos, com cinco parentes. Tem 21 anos, 1,78 m de altura e 52 kg. Desde novembro, trabalha de ourives, mas já se defendeu como garçom e pizzaiolo. “Sempre ganhei muito pouco”, lamenta. Nas horas vagas, integra o Amazing Break, grupo amador especializado em street dance (ou dança de rua). Não por acaso, arregalou os olhos quando tomou conhecimento do prêmio que a emissora reserva para o campeão da disputa: R$ 200 mil.
Na primeira fase do programa, mostrou um número ousado. Interpretou de modo sui generis O Cisne, 13º andamento de O Carnaval dos Animais, peça escrita pelo compositor francês Camille Saint-Saëns em 1886. No começo do século 20, o russo Mikhail Fokine coreografou o trecho e sugeriu à conterrânea Anna Pavlova que o dançasse. A mitológica bailarina abraçou a tarefa brilhantemente. Executou o solo inteiro na ponta dos pés. Sem nenhuma formação clássica, John releu a obra sob o viés do popping – estilo da street dance caracterizado por movimentos que ora lembram os de um robô, ora o das ondas. Chegou, assim, às semifinais da competição, previstas para este mês. De quebra, assombrou o júri.
Fã ardoroso do poeta português Fernando Pessoa, o garoto também gosta de Beethoven e Chopin. “Descobri os dois ouvindo rádio.” No entanto, até 2010, desconhecia Saint-Saëns. Foi o coreógrafo Luis Ferron, vencedor do Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura com o espetáculo Sapatos Brancos, quem lhe falou do autor parisiense e de Anna Pavlova. À época, os cinco rapazes do Amazing Break frequentavam uma oficina de composição cênica oferecida pela prefeitura de São Paulo. Por notar semelhanças entre o popping e o gestual de Pavlova em O Cisne, Ferron – um dos coordenadores do projeto educativo – propôs que John recriasse o célebre solo. A experiência incomum, registrada num vídeo de quatro minutos, alcançou o YouTube e logo se disseminou. Acabou chamando a atenção do SBT, que convidou o jovem para o programa.
“John possui um talento acima da média”, avalia o coreógrafo. “É bastante criativo, sensível e curioso. Tudo o que sabe aprendeu intuitivamente, à base de observação e treinos exaustivos. Se compreender melhor o que faz e o funcionamento do próprio corpo, deverá ir bem longe.”
(revista Bravo!)

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