A verdade é apenas um acordo entre mentirosos?
A verdade é apenas um acordo entre mentirosos?
“Toda a filosofia moderna, a partir de Nietzsche, discute o valor das palavras, sua relação com a realidade, se é que têm alguma. Nietzsche, filho de um pastor protestante, de temperamento religioso, ficou bestificado ao descobrir que as palavras da Bíblia, que imaginava virem diretamente do ente divino e criador, tinham sido redigidas por gente como ele, humana, demasiado humana, usando as banalidades da sintaxe e da gramática. Tudo é versão.”
“Repetidos acidentes, até fatais, pelo uso de veículos por pessoas inabilitadas recebem entre nós o rótulo de ‘fatalidade’. Mas há fatalidades previsíveis, que podem ser evitadas e não o são. Quem se responsabiliza por elas? A adoção de equipamentos e instrumentos que dependem de maturidade e habilitação para ser manejados deu-se no Brasil como uma espécie de salto do passado ao futuro, sem passagem pelo presente da ressocialização e da reeducação para seu uso. Pulamos da era do cavalo para a era da máquina, dirigindo máquina como quem dirige cavalo. A diferença é que o cavalo é um animal que age inteligentemente, mesmo quando o cavaleiro é burro.”
– E se você souber que estou num prédio em chamas?
– Vou socorrer o fogo!
Todo escravo tem consciência da própria servidão?
Vivo aflito na rua do Sossego.
“quanto tempo falta pra gente se ver hoje
quanto tempo falta pra gente se ver logo
quanto tempo falta pra gente se ver todo dia
quanto tempo falta pra gente se ver pra sempre
quanto tempo falta pra gente se ver dia sim dia não
quanto tempo falta pra gente se ver às vezes
quanto tempo falta pra gente se ver cada vez menos
quanto tempo falta pra gente não querer se ver
quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais
quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que não se viu
quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer
quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu”
“Por que passei tantos anos sem escrever literatura? Por uma questão hormonal, talvez. Houve uma época em que, quando tinha uma ideia, saía correndo para os bares comemorar que tinha tido uma ideia. Hoje, quando tenho uma ideia, corro para o computador e escrevo. Os hormônios me incomodam menos agora, não me chamam tanto para o crime. Escrever é uma coisa muito física, muito ligada à vida concreta. Você precisa de condições mínimas: solidão, silêncio. Você não pode ter o coração aos pulos porque os credores estão dando picaretadas nas paredes ou porque sua mulher está transando com o vizinho. A realidade não pode morder sua canela o tempo todo. Você precisa botá-la ali, num cantinho. Tem que ter uma torre de marfim. Escritores descobrem a torre de marfim em diversos lugares. Cervantes, por exemplo, a descobriu na prisão de Madri, que não devia ser exatamente o Hilton Bangkok. O escritor necessita desse recolhimento. Precisa ter disponibilidade _e dinheiro, claro. Outro negócio que é bom para escrever é estar vivo. Tem de contar com isso. Na hora que não tiver mais, fica difícil. Quer dizer, depende de uma psicógrafa.”
Webmaster: Igor Queiroz