O pênis é sempre culpado até que se prove o contrário?
“Na banca de revista, mulheres nuas por todos os lados. Homens só na estética ‘para homens’. Mulher não deve ver pau, é feio, eca, tem que ver a foto da cara do príncipe. O menino cola o pôster da gata nua e punheta todo dia. Pras meninas, resta pôster da cara do baby Johnson na parede. Corpo é coisa pra mulher mostrar, não pra ver, muito menos pra gozar. A blusa a mulher pode tirar se for pro homem, se for pra ela, assim, só por vontade, calor, pra tomar um banho de mar, a polícia leva. Porque se um homem vir, deus, pode estuprar.
O medo, o medo, o medo.
Mulheres educadas pra princesas. Mesmo com pai e mãe mais hippie, o mundo em volta grita pra ela: PRINCESA!!!
Sente direito, feche as pernas, tá transparente, tá aparecendo a calcinha, você vai cair, vai chegar o amor, bote um sutiã, menstruar é uma delícia, não vá engravidar, essa roupa é de puta!
De repente, um pau na sua frente. (…)
Me pergunto perplexa: por que uma foto de pau significa violência? E por que, se uma mulher questiona isso, é tratada com violência? Não diga isso! Cale já a boca! (…)
Ontem escrevi no Twitter ‘A violência tá na violência. O medo tá no medo. Foto de pau não representa violência e medo. Brigo contra a violência e o medo, não contra o pau’. É preciso falar quantas vezes ‘brigo contra a violência e o medo’ pra alguém que ler entender que brigo contra a violência e o medo?
Mas aí falei a palavra mágica: pau. E mulher que fala pau não merece respeito, merece o quê? O pau como arma, como ameaça.
O senhor ator Zé de Abreu, que não conheço pessoalmente, viu a postagem de que falei acima e escreveu pra mim, no Twitter mesmo: ‘Posso te mandar foto do meu sem você pedir? Pena que nunca tirei…Uso para fins melhores’.
Ora, ora, senhor ator, guarde as armas!
Falei no texto antes desse que não acho que mandar uma foto de pau sem perguntar antes seja necessariamente assédio. Acho, sim, que um homem, ou uma mulher, numa conversa, pode achar que o clima é pra mandar uma foto e mandar sem perguntar expressamente, pra ver se o outro gosta. Repito isso da foto porque é uma coisa que é colocada como abuso em si. Se um homem quiser, ele pode realmente usar o seu corpo como ameaça, como fazem tantos homens violentos por aí. Violência castradora de mulheres, essa em que um homem ameaça com o pau, feito metralhadora de corpos. Mas isso com ou sem foto.”
Trecho de O pau como revólver, artigo da cantora Karina Buhr
Publicado
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014 às 3:37 pm e categorizado como Blog.
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O pênis é sempre culpado até que se prove o contrário?
“Na banca de revista, mulheres nuas por todos os lados. Homens só na estética ‘para homens’. Mulher não deve ver pau, é feio, eca, tem que ver a foto da cara do príncipe. O menino cola o pôster da gata nua e punheta todo dia. Pras meninas, resta pôster da cara do baby Johnson na parede. Corpo é coisa pra mulher mostrar, não pra ver, muito menos pra gozar. A blusa a mulher pode tirar se for pro homem, se for pra ela, assim, só por vontade, calor, pra tomar um banho de mar, a polícia leva. Porque se um homem vir, deus, pode estuprar.
O medo, o medo, o medo.
Mulheres educadas pra princesas. Mesmo com pai e mãe mais hippie, o mundo em volta grita pra ela: PRINCESA!!!
Sente direito, feche as pernas, tá transparente, tá aparecendo a calcinha, você vai cair, vai chegar o amor, bote um sutiã, menstruar é uma delícia, não vá engravidar, essa roupa é de puta!
De repente, um pau na sua frente. (…)
Me pergunto perplexa: por que uma foto de pau significa violência? E por que, se uma mulher questiona isso, é tratada com violência? Não diga isso! Cale já a boca! (…)
Ontem escrevi no Twitter ‘A violência tá na violência. O medo tá no medo. Foto de pau não representa violência e medo. Brigo contra a violência e o medo, não contra o pau’. É preciso falar quantas vezes ‘brigo contra a violência e o medo’ pra alguém que ler entender que brigo contra a violência e o medo?
Mas aí falei a palavra mágica: pau. E mulher que fala pau não merece respeito, merece o quê? O pau como arma, como ameaça.
O senhor ator Zé de Abreu, que não conheço pessoalmente, viu a postagem de que falei acima e escreveu pra mim, no Twitter mesmo: ‘Posso te mandar foto do meu sem você pedir? Pena que nunca tirei…Uso para fins melhores’.
Ora, ora, senhor ator, guarde as armas!
Falei no texto antes desse que não acho que mandar uma foto de pau sem perguntar antes seja necessariamente assédio. Acho, sim, que um homem, ou uma mulher, numa conversa, pode achar que o clima é pra mandar uma foto e mandar sem perguntar expressamente, pra ver se o outro gosta. Repito isso da foto porque é uma coisa que é colocada como abuso em si. Se um homem quiser, ele pode realmente usar o seu corpo como ameaça, como fazem tantos homens violentos por aí. Violência castradora de mulheres, essa em que um homem ameaça com o pau, feito metralhadora de corpos. Mas isso com ou sem foto.”
Trecho de O pau como revólver, artigo da cantora Karina Buhr
Publicado segunda-feira, 8 de dezembro de 2014 às 3:37 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.