Longa jornada noite adentro

“O senhor sempre cita uma frase em que William Faulkner compara a literatura a um fósforo aceso no meio da escuridão, que não ilumina nada, mas acena com uma esperança. É possível que a literatura tenha uma dimensão tão ínfima?
Acredito que sim. Faulkner dizia que a pequena chama acesa só serve para ver com mais claridade quanta escuridão existe ao redor dela. A literatura faz isso, mas não me parece pouco. Ilumina zonas de sombra ou penumbra, e sem ela as pessoas nem perceberiam que essas zonas existem. Não explica o mistério, mas nos ajuda a dar conta de sua magnitude. Se não houvesse a literatura, nem sequer saberíamos a dimensão do desconhecido, do enigmático do mundo, do inexplicável de nossos comportamentos. É pouco e é muito. A ciência faz algo parecido, no fundo. Acreditamos que ela ilumina, mas sobretudo ela nos mostra zonas de sombra. Temo que essas nunca acabem.”

Do escritor espanhol Javier Marías, durante entrevista para o repórter Antonio Gonçalves Filho

Deixe um comentário

Contato | Bio | Blog | Reportagens | Entrevistas | Perfis | Artigos | Minha Primeira Vez | Confessionário | Máscara | Livros

Webmaster: Igor Queiroz