Sangue do meu sangue?

“Eu juro que eu tento! Peço a Deus, a Nossa Senhora de Nazaré, aos espíritos protetores, a seu anjo da guarda, mas as nossas diferenças são tantas que me perturbam demais, me desestabilizam, chegam quase a me enlouquecer.
Cheiro horrível em seu quarto. Algo podre, com certeza. Indago já estressada e ele, com as doses extras de paciência tão peculiares, revira e quase comemorando me diz: ahhh, é um peixinho, mãe, e sorri. Sim, o peixe morreu e, como ele estava distante da lixeira, guardou-o no bolso. Isso há três dias!
Uma conjuntivite e uma consulta a um clínico geral e posterior indicação a um especialista. Algo grave, diz ele ao telefone, me pedindo para acompanhá-lo. Vou e, no caminho, ao conhecer os detalhes, me arrependendo de ter ido. Usou, pra não ir à farmácia, um colírio veterinário. Tentem imaginar a cara da jovem oftalmo.
O corte de cabelo inusitado e, na minha avaliação, horrível. Onde fizeste isso?, e de novo a calma irritante: a moça do petshop, que tosa os cachorros, é quem fez. Não ficou legal?  E há poucos minutos o vejo saindo do prédio. Em uma mão, o celular e, na outra, o saco de lixo que deveria ter deixado no coletor. Saiu andando, faceiro e feliz, com os resíduos mal cheirosos.
Esse é o meu filho, que veio sob encomenda. Talvez pra me ensinar a viver com as diferenças ou pra testar a minha estabilidade emocional.  Exigindo-me mais e mais sabedoria, mais e mais equilíbrio, mais e mais amor.”

Do Facebook de Ruth Rendeiro, jornalista e escritora

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