Mais do que Charlie, agora somos todos franceses?

“Depois de décadas de retraimento econômico e perda de importância cultural, a França recupera, por vias tortas, o protagonismo perdido. Tudo que ela simbolizava de ultrapassado – o intelectualismo, a iconoclastia anarquista, a verborragia do debate na imprensa, o pendor esquerdizante inspirado em 68, o estado inchado, as marchas organizadas – parece voltar a seu favor. (…) Quando achávamos que a internet estava ganhando a batalha contra a imprensa escrita, quando tínhamos certeza de que a era da imagem estava tornando banal qualquer tipo de agressão em forma de desenho, quando era evidente que a França tinha sucumbido ao pragmatismo americano, eis que tudo vira do avesso: por causa do atentado a um pasquim impresso embebido de espírito meia-oito, temos um momento histórico de volta da França, da imprensa escrita, da sátira política, do cartum anarquista. Para coroar a inversão de expectativas, os terroristas que praticaram o atentado ao Charlie Hebdo foram emboscados e mortos nas dependências de uma… gráfica. Não é à toa que o grande emblema da resistência tenha assumido a forma de um lápis.”

Trecho do artigo A França de volta ao centro do mundo, escrito por Flavio Moura

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