Indelicadeza gera indelicadeza

“Peguei um táxi. Comecei aquela conversa que costumo levar com os taxistas _sobre o calor, sobre o trânsito, sobre a vida em geral. 
– A senhora não faz ideia do que a gente enfrenta nesse serviço.
– Imagino! É preciso muita paciência para encarar esse trânsito. 
– Vou dizer uma coisa para a senhora: às vezes, eu acho que, comparando com os passageiros, o trânsito é até o de menos. Tem gente que, se pudesse, nem o endereço dava para não ter que falar com o motorista. Agora mesmo eu me estressei com uma mulher. Peguei ela na Glória, levei para Copacabana, nem boa tarde ela disse quando entrou no carro. Deixei ela lá, peguei outro passageiro. Rodei um pouco, tocou um celular no banco de trás e o passageiro me estendeu um telefone: ‘Olha, esqueceram aqui no seu carro!’. Eu atendi. Pois era a mulher que eu tinha deixado em Copacabana, já meio aos gritos comigo. ‘Esqueci meu telefone no seu carro, mas preciso muito dele, preciso que você devolva esse aparelho agora!’ Respondi que agora agora não ia dar, que estava tripulado e que ia até o Santos Dumont. Mas que, depois, levava o telefone até Copa se ela me pagasse a corrida. A mulher ficou doida: ‘Eu conheço esse golpe! Você inventou isso para se dar bem comigo! Vocês acham que a gente é trouxa, mas eu não sou!’. Assim, nesse tom. 
– Que horror! E o que é que você fez?
– Eu? Abri a janela e joguei o telefone fora.”

Do Facebook de Cora Ronai, jornalista e escritora

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