O que nos resta, afinal?

” – Qual o maior problema do ‘nosso’ futebol?
– Não ganhamos as últimas Copas.
– Mas exportamos o futebol do Brasil para o mundo inteiro. Todos jogam como nós.
– Ok… Mas por que não conseguimos ganhar?
– Precisamente por causa disso. Todo sucesso vira fracasso. Quem ganha perde…
Ouvi isso na barca indo para o Rio, eu que continuo insistindo em morar em Niterói. Ora, morar em Niterói é como não saber que o futebol sofre de um pecado original: o nosso time não pode perder. E, no entanto, se um time fosse eternamente ganhador, os estádios ficariam vazios.
Num espaço de tempo que hoje engloba uns 100 anos, contabilizamos muitos jogos e, em consequência, muitas perdas e ganhos. As derrotas, contudo, são mais lembradas porque nossa memória retém – como dizia Freud – mais a ferida e o sofrimento (o trauma) do que o gozo, o encantamento e a beleza de céu estrelado das experiências transitórias (aliás, Freud tem um belíssimo ensaio sobre esse assunto). O belo passa e o feio fica? De modo algum. Mas o bom é amarrado com teias de aranha, ao passo que o ruim deixa cicatrizes.”

Trecho de Como não perder no futebol?, artigo do antropólogo Roberto Damatta

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