Como na França?

“Que coincidência! Não tem polícia, não tem violência!” Entre as tantas palavras de ordem que escutei durante os protestos de hoje em São Paulo, nenhuma me chamou mais atenção do que aquelas. Havia (ainda há) milhares de jovens nas ruas da cidade e pouquíssimos PMs. De Pinheiros até a avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, só encontrei soldados nos arredores do metrô Faria Lima. Estavam todos muito calmos – tranquilidade que exalava também dos ativistas. Depois da batalha de quinta-feira, os ânimos afinal serenaram. Como das outras vezes, inúmeros ônibus ficaram retidos no trânsito. Agora, porém, quando os manifestantes passavam por alguns deles, presenteavam os motoristas com flores e gritavam: “Ei, motorista! Ei, cobrador! Responda se o seu salário aumentou!” Não raro, os motoristas celebravam o grito de guerra tocando a buzina ou acendendo e apagando as luzes internas dos ônibus. Num ponto da avenida Juscelino Kubitschek, empoleirados sobre os tapumes de um prédio em construção, dezenas de operários espiavam o movimento. Mal os avistaram, os ativistas começaram a berrar: “Ei, trabalhador! Se você parar, nós vamos apoiar!” De maneira semelhante, ao ver engravatados nas janelas ou nas portas dos edifícios comerciais, os rapazes e as moças pediam: “Ei, você aí! Tire a gravata e vem pra passeata!” Viveremos no país algo parecido com o que a França vivenciou em maio de 1968, quando o entusiasmo dos estudantes acabou contaminando os sindicatos e levando dez milhões de trabalhadores à greve?

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