Cativar o leitor ou botá-lo num cativeiro?

“Escrever é falar com estranhos. Você quer que eles confiem em você. Seria bom que começasse confiando neles – imaginando para cada leitor uma inteligência no mínimo igual à que imagina para você mesmo. Você seguramente sabe algumas coisas que o leitor não sabe (se não, por que escrever?), mas ajuda pensar que o leitor tem conhecimentos inacessíveis a você. Não é uma questão de generosidade, e sim de realismo. A boa escrita cria um diálogo entre escritor e leitor, com o imaginado leitor em alguns momentos questionando, criticando e, por vezes, assim você espera, concordando. O que a pessoa ‘sabe’ não é algo que ela possa tirar de uma prateleira e entregar. O que ela sabe em prosa é amiúde o que descobre no ato de escrevê-la, como na melhor das conversas com um amigo – como se ela e o leitor fizessem a descoberta juntos. Dizem aos escritores que eles precisam ‘agarrar’, ou ‘fisgar’, ou ‘capturar’ o leitor. Mas pense nessas metáforas. Seu tema é violência e compulsão. Elas sugerem a relação que se poderia querer ter com um criminoso, não com um leitor. Montaigne escreve: ‘Não desejo que ninguém use a força para obter minha atenção’.”

Trecho do livro Good Prose, the Art of Nonfiction, de Tracy Kidder e Richard Todd

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