Se Cristo fosse casado, poderia ter escapado da cruz?

“Nós nos casamos em uma cerimônia simples no deserto, só para os íntimos, celebrada por um rabino e um outro que Jesus chamou de ‘ministro batista’. Logo antes dos votos de fidelidade, o rabino cochichou para mim: ‘Pense bem no que está fazendo! Seus filhos vão ser meio goim!’ Mas, na festa do casamento, em um oásis lindo, Jesus conquistou totalmente a minha família ao curar meu primo Zeca da Galileia, que teve furúnculos a vida inteira. É verdade que minha tia Ruth, ao ver o Zeca curado, não se conteve: ‘Bom, ele também tem piolhos…’ Durante os anos seguintes acompanhei Jesus em suas viagens de aldeia em aldeia, espalhando a palavra de Deus a todos que quisessem ouvir. Eu dizia a mim mesma: ‘Deixa ele desabafar, botar tudo para fora’. Até que chegou o dia fatídico. Foi durante um jantar, em uma pousada das redondezas, com todos os apóstolos reunidos. Eu testava uma nova receita de bolinhos sem fermento. ‘Estão uma delícia!’, disse Judas, o que me deixou desconfiada, porque, sinceramente, você já provou bolo sem fermento? Daí Jesus anunciou que alguém daquela mesa iria traí-lo – eu estava em pé, bem atrás de Judas, e fiquei apontando para ele, fazendo mímica para dizer: ‘É esse aqui! Acorda!'”

Trecho de Meu Homem, conto de Paul Rudnick 

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