Ana, a dionisíaca
Hoje pela manhã, a faxineira descobriu o quadro novo que chegou à minha casa há uma semana e que permanecia encostado num sofá.
– Bonito, hein?, comentou. O mais bonito que você já arranjou. Comprou, foi?
– Não, Ana, ganhei da própria artista.
– Ganhou da moça que fez? Puxa… Diga à moça que ela está de parabéns. Muito lindo o quadro. A moldura é coisa fina, viu?
– Você gostou mais da moldura que do desenho?
– Oxê, gostei dos dois! Se bem que a moldura impressiona. Deixa o quadro importante.
– E o que você enxerga quando observa o desenho?
– Rapaz, não sou boa nessas adivinhações, não.
– Como não? Qualquer um pode dizer o que enxerga num desenho.
– Pode mesmo ? Então enxergo uma árvore.
– Árvore?
– É. Olhe os galhos secos, saindo das raízes.
– Eu enxergo um par de mãos.
– Talvez… Mas, para mim, é uma árvore, como as da minha terra.
– Não acha a imagem meio triste?
– E você, por acaso, liga para isso? Neste apartamento, só tem quadro triste!
– Só?
– Sim, tudo triste… Não vá rejeitar o quadro da moça apenas porque lhe parece triste. Ela deu de coração…
– Eu sei.
– Que tal botar o quadro ali, na parede vermelha? Assim a gente abafa um pouco a tristeza.
Sem esperar a resposta, Ana pegou a tela e a pendurou na parede vermelha.
– Deixe aqui por uns dias. Você verá que a tristeza logo esmorece. Agora, com licença: vou tomar uma daquelas cervejinhas estrangeiras que você colocou na geladeira. Pensa que não reparei, é?
Muito boa a crônica. Leve. Adorei ter começado o dia com ela. Abraços.
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te visito com frequência e nunca senti necessidade de deixar um comentário. hoje precisei escrever pra dizer que sabe-se-lá-por-que Ana me chorar.
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