“Fofa em catre perfumado,
deitou-se a filha solteira,
somente a beleza, inteira!
Seu galã não vacilou:
assim que o sono pegou
nos outros, ele, rolando
no corpo e não se aguentando,
vai pra cama da mocinha
e em deleite ali se aninha.
Logo encosta na donzela,
a seus contornos se atrela.
Mas ela, tendo a coberta
de si puxada, desperta
e emite a reclamação:
‘Quem em mim meteu a mão?
Quem ousou me descobrir,
queira já, por Deus, partir!’
Consigo então, mais dengosa,
ei-la a perguntar curiosa:
‘De que coisa anda à procura
quem me apalpa e aperta e fura?’
O moço, surpreendido,
sussurra no seu ouvido:
‘Bela dama, por Jesus,
caluda, ânimo, sus!
A paixão por vós é cega,
mas se vosso pai nos pega
pode dar um bafafá,
se ele deduzir que eu já
por me achar ao vosso lado
cometo um grave pecado.
Silêncio! Se o concederdes,
se a mim este prazer derdes,
grande bem vos será feito
e este anel de tanto efeito
será vosso, além do mais,
se a mim vos abandonais.
Olhai só como é pesado,
precioso e abrilhantado.
Mas, como não cabe bem
no meu dedo, ao vosso vem’.
E lhe passa o anel de lata
da panelinha barata.
Ela jura o não querer,
mas ele, querendo-a ter,
mais se achega. Os dois embolam.
Desentendidos, se colam,
e ele, ao sabor das mexidas,
com ela às suas sacudidas,
vão-se os dois pelas alturas
de suas doces loucuras.”
Trecho de O Tabaréu, a Tabaroa, Sua Filha e os Estudantes, miniconto rimado de Leonardo Fróes, escrito a partir de um texto do francês Jean Bodel
Publicado
terça-feira, 19 de junho de 2012 às 3:52 pm e categorizado como Blog.
Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.
Com jeitinho, se vai ao longe?
“Fofa em catre perfumado,
deitou-se a filha solteira,
somente a beleza, inteira!
Seu galã não vacilou:
assim que o sono pegou
nos outros, ele, rolando
no corpo e não se aguentando,
vai pra cama da mocinha
e em deleite ali se aninha.
Logo encosta na donzela,
a seus contornos se atrela.
Mas ela, tendo a coberta
de si puxada, desperta
e emite a reclamação:
‘Quem em mim meteu a mão?
Quem ousou me descobrir,
queira já, por Deus, partir!’
Consigo então, mais dengosa,
ei-la a perguntar curiosa:
‘De que coisa anda à procura
quem me apalpa e aperta e fura?’
O moço, surpreendido,
sussurra no seu ouvido:
‘Bela dama, por Jesus,
caluda, ânimo, sus!
A paixão por vós é cega,
mas se vosso pai nos pega
pode dar um bafafá,
se ele deduzir que eu já
por me achar ao vosso lado
cometo um grave pecado.
Silêncio! Se o concederdes,
se a mim este prazer derdes,
grande bem vos será feito
e este anel de tanto efeito
será vosso, além do mais,
se a mim vos abandonais.
Olhai só como é pesado,
precioso e abrilhantado.
Mas, como não cabe bem
no meu dedo, ao vosso vem’.
E lhe passa o anel de lata
da panelinha barata.
Ela jura o não querer,
mas ele, querendo-a ter,
mais se achega. Os dois embolam.
Desentendidos, se colam,
e ele, ao sabor das mexidas,
com ela às suas sacudidas,
vão-se os dois pelas alturas
de suas doces loucuras.”
Trecho de O Tabaréu, a Tabaroa, Sua Filha e os Estudantes,
miniconto rimado de Leonardo Fróes, escrito a partir de um texto do francês Jean Bodel
Publicado terça-feira, 19 de junho de 2012 às 3:52 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.