Quem ainda quer dizer alô?

“Quando você deseja conversar com alguém, qual seu primeiro impulso? A resposta depende da sua geração, mas imagino que a maioria dos leitores, numa enquete informal, falaria: ‘mando email ou mensagem de texto’. A mais recente pesquisa de opinião do Estado da Flórida, onde a eleição presidencial americana pode ser decidida, revela que Mitt Romney tem vantagem apertada, de 48% a 45% sobre Barack Obama, mas só entre os que responderam pelo telefone fixo. Entre os que responderam por celular, Obama dispara, com 57%, ante 34% de Romney. Se o celular substituiu o telefone fixo, o smartphone promoveu a abolição da conversa vocal. Há três anos, uma chamada por celular nos Estados Unidos durava uma média de três minutos. Hoje, as pessoas desligam depois de pouco mais de um minuto. Quem poderia esperar que a comunicação escrita fosse se tornar tão informal e empobrecida? Podem me chamar de saudosista, mas quando recebo um SMS, como ‘saudades, vc quer pegar um filme no fds? bj’, suspeito que, mais do que as palavras, o afeto também foi abreviado. (…) Outro dia, telefonei para a casa de um amigo, que continua usando a secretária eletrônica, para agradecer por um convite, certa de que ele estava fora. Levei um susto quando ele atendeu, e confessei, sem graça: ‘Não esperava que você estivesse aí’. Ah, você telefonou porque não queria falar comigo, ele concluiu, com toda razão.”

Trecho de Pelo telefone, artigo de Lúcia Guimarães

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