Pra que rimar amor e dor?

“Em geral, nossas namoradas creem no Deus dos Evangelhos assim como nós, e isso significa que chegarão virgens ao casamento _apesar de os Evangelhos não mencionarem nenhum procedimento desse tipo. Assim, nosso jeito de fazer sexo é passar horas nos tocando, enquanto conversamos. Nunca gozamos. Quase nunca. Nós, homens, tocamos toda a pele que podemos e, de vez em quando, enfiamos as mãos sob as saias delas, mas nem sempre. Elas, no entanto, tocam logo nosso sexo, pois somos nós que abrimos as calças e, às vezes, as tiramos. Isso acontece em casas em que os pais, irmãos, irmãs estão do outro lado, atrás da porta, e qualquer um pode entrar de uma hora para outra. Portanto, fazemos tudo numa precariedade permeada de perigo. Frequentemente não há nada mais que uma porta entreaberta entre o pecado e o castigo, e isso faz com que o prazer de se tocar e o medo de ser descobertos, assim como o desejo e o remorso, aconteçam simultaneamente, ligados numa única emoção que nós chamamos, com precisão esplêndida, sexo.”

Trecho de A Paixão de A., romance de Alessandro Baricco
O título do post é um verso de Mora na Filosofia, canção de Caetano Veloso

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