Desejando o tabu

“Lembras-te, Cordélia, de que aos 14 eu ia às noites beijar os pés de papai e algumas vezes chupava-lhe o dedão? Dizias: ‘mas é claro que ele sabe que tu lhe chupas o dedão do pé, deve cagar-se de rir’. Pois tenho certeza de que não sabia. Via-o ressonar em adorável tranquilidade. Como era belo o nosso pai, não? Que coxas! Tu, aos 24, vivias masturbando-te nos fins de semana quando ele começava as intermináveis partidas de tênis. Papai: que te acontece, Cordélia, todos os fins de semana tens uma cara, umas olheiras, um cansaço como se fosses tu a jogar tênis e não eu. E te abraçava. Aí gozavas. Ele nunca entendia aquele teu desmontar-se no momento do abraço: és muito molengona, muito desabada, filha, que te acontece?”

Trecho de Carta de um Sedutor, livro de Hilda Hilst

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