Arquivo de junho de 2013

terça-feira, 18 de junho de 2013

Corpos fechados

“Se está faltando homem? Não, não está – nem homem, nem mulher. O que falta é intimidade.”

Da escritora Martha Medeiros

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Como na França?

“Que coincidência! Não tem polícia, não tem violência!” Entre as tantas palavras de ordem que escutei durante os protestos de hoje em São Paulo, nenhuma me chamou mais atenção do que aquelas. Havia (ainda há) milhares de jovens nas ruas da cidade e pouquíssimos PMs. De Pinheiros até a avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, só encontrei soldados nos arredores do metrô Faria Lima. Estavam todos muito calmos – tranquilidade que exalava também dos ativistas. Depois da batalha de quinta-feira, os ânimos afinal serenaram. Como das outras vezes, inúmeros ônibus ficaram retidos no trânsito. Agora, porém, quando os manifestantes passavam por alguns deles, presenteavam os motoristas com flores e gritavam: “Ei, motorista! Ei, cobrador! Responda se o seu salário aumentou!” Não raro, os motoristas celebravam o grito de guerra tocando a buzina ou acendendo e apagando as luzes internas dos ônibus. Num ponto da avenida Juscelino Kubitschek, empoleirados sobre os tapumes de um prédio em construção, dezenas de operários espiavam o movimento. Mal os avistaram, os ativistas começaram a berrar: “Ei, trabalhador! Se você parar, nós vamos apoiar!” De maneira semelhante, ao ver engravatados nas janelas ou nas portas dos edifícios comerciais, os rapazes e as moças pediam: “Ei, você aí! Tire a gravata e vem pra passeata!” Viveremos no país algo parecido com o que a França vivenciou em maio de 1968, quando o entusiasmo dos estudantes acabou contaminando os sindicatos e levando dez milhões de trabalhadores à greve?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Quem disse que não dispomos de transporte público gratuito no Brasil?

“O Movimento Passe Livre do andar de cima, sustentado pela Viúva, existe e vai bem, obrigado. Num cálculo paternal, há hoje pelo menos 15 mil maganos que não pagam transporte e têm motorista. Os governos simplesmente não sabem o tamanho de suas frotas. Cada hierarca justifica a necessidade de ter carro e motorista. O que nenhum deles explica é por que na Corte Suprema dos Estados Unidos apenas o presidente do tribunal usufrui desse mimo. Quando Lawrence Summers era o principal assessor econômico do companheiro Obama, queixou-se de que não tinha carro oficial. Continuou queixando-se, até ir embora.”

Do jornalista Elio Gaspari

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Só o Papai Noel pode parar São Paulo?

“Justificando as ações da PM contra os protestos na capital, o governador Geraldo Alckmin afirmou que ‘a polícia tem o dever de preservar o direito de ir e vir’. Muito acertadamente, um tuiteiro lembrou que a decoração natalina das agências bancárias da Paulista também restringe o direito de ir e vir, a cada dezembro, e ninguém jamais foi preso ou tomou tiro de borracha no rosto por causa disso. Pelo contrário, nos últimos anos a CET fechou algumas vezes as pistas da avenida, em certas horas do dia, para que os pedestres apreciassem os enfeites.”

Trecho do artigo Com violência, polícia criou “metamanifestação”, de Antonio Prata

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Busão apinhado no dia-a-dia dos outros é refresco?

“Melhor chorar num Rolls-Royce do que rir num ônibus.”

Da romancista francesa Françoise Sagan

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Um dia o gado vira fera?

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Tanta confusão por causa de 20 centavos?

“O modelo de transporte coletivo baseado em concessões para exploração privada e cobrança de tarifa está esgotado. E continuará em crise enquanto o deslocamento urbano seguir a lógica da mercadoria, oposta à noção de direito fundamental para todas e todos. Essa lógica, cujo norte é o lucro, leva as empresas, com a conivência do poder público, a aumentar repetidamente as tarifas. O aumento faz com que mais usuários do sistema deixem de usá-lo, e, com menos passageiros, as empresas aplicam novos reajustes. Isso é uma violência contra a maior parte da população, que, como evidencia a matéria publicada pelo portal UOL, chega a deixar de se alimentar para pagar a passagem. Calcula-se que são 37 milhões de brasileiros excluídos do sistema de transporte por não ter como pagar. Esse número, já defasado, não surgiu do nada: de 20 em 20 centavos, o transporte se tornou, de acordo com o IBGE, o terceiro maior gasto da família brasileira, retirando da população o direito de se locomover. População que se desloca na maioria das vezes para trabalhar e que, no entanto, paga quase sozinha essa conta, sem a contribuição dos setores que verdadeiramente se beneficiam dos deslocamentos. Por isso defendemos a tarifa zero, que nada mais é do que uma forma indireta de bancar os custos do sistema, dividindo a conta entre todos, já que todos são beneficiados por ele.”

Trecho do artigo Por que estamos nas ruas, de Nina Cappello, Erica de Oliveira, Daniel Guimarães e Rafael Siqueira, militantes do Movimento Passe Livre

sexta-feira, 14 de junho de 2013

E você ainda acha que o governador não está tomando providências?

“Em Paris, Geraldo Alckmin apresentou medidas para restabelecer a ordem entre os paulistanos. ‘Como medida emergencial, criaremos um sistema de rodízio para as manifestações. Vândalos com a ficha criminal terminando em 01 só poderão depredar a cidade às segundas. Até o fim de 2016, vamos criar uma faixa exclusiva na Marginal Pinheiros para delinquentes protestarem. Peço que as pessoas guardem suas reivindicações em casa até lá. Além disso, vamos implementar um sistema de pedágios para o manifestante que caminhar de uma cidade vizinha.'”

Do Piauí Herald

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quer uma prova de que jovens perigosos ameaçavam a PM nos protestos de ontem em São Paulo?

Dica de Gianni Paula de Melo

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O que os move?

Uma das muitas cenas de violência policial que presenciamos durante as manifestações
O autor da foto é Rodrigo Paiva

Acabo de retornar dos protestos na região central de São Paulo. Fui somente como observador, com dois objetivos: saber quem são os ativistas e tentar descobrir de que maneira começam os atos de violência. O que vi e ouvi:
1. Milhares de jovens se concentravam pacificamente na praça Roosevelt quando, sem nenhum motivo aparente, a polícia iniciou um intenso bombardeio. Bombas de gás lacrimogênio explodiam sem parar, produzindo estrondos muito altos e assustadores. Nunca presenciei nada parecido no centro da cidade. Os ativistas, pelo menos naquele momento, não reagiram. Muitos apenas gritavam: “Sem violência, sem violência!” Mesmo assim, a artilharia prosseguiu. O ar se tornou irrespirável e os manifestantes começaram a se dispersar.
2. Corri em direção à rua Rego Freitas, onde recebi máscaras cirúrgicas, distribuídas por moças e rapazes que se encontravam diante do coletivo Matilha Cultural. Eles nos convidavam a entrar. Ali, as máscaras eram encharcadas com vinagre, substância que corta o efeito do gás lacrimogênio.
3. Quando retornei à rua, havia sacos de lixos pegando fogo e algumas caçambas tombadas _tudo no meio da via, para impedir o avanço da tropa de choque. Rumei em direção à rua da Consolação. Mal cheguei ali, na altura do Mackenzie, avistei uma quantidade grande de policiais motorizados, que ocupava toda a pista sentido bairro. Naquele ponto, um ônibus pichado fora abandonado, mas já não ocorria nenhuma manifestação. Dispersos, os ativistas se misturavam à população que não se engajara no movimento. Caminhei alguns metros pela calçada quando me deparei com um cordão policial bastante hermético, que bloqueava a rua. Mais adiante, bombas explodiam, sem que eu pudesse ver o que estava acontecendo. O ar começou a ficar novamente irrespirável. Um dos soldados se dirigiu a nós, que simplesmente caminhávamos, apontou uma arma com balas de borracha para o chão e gritou: “Dispersar, dispersar!” Começou a atirar. Todo mundo correu, lógico.
4. Impedido de prosseguir pela Consolação, decidi pegar o metrô na estação Santa Cecília. Andei até lá. Ao longo do caminho, muitos jovens conversavam em pequenos grupos, sem nenhum policial por perto. Mal entrei na estação, dei de cara com uma fila imensa. Eram centenas e centenas de passageiros que tentavam cruzar as catracas. Como as ruas das redondezas estavam bloqueadas, só lhes restava pegar o metrô. Fiz um cálculo rápido e concluí que levaria muito tempo para conseguir embarcar. Resolvi andar até a avenida Pacaembu, onde acabei tomando um táxi.
5. Quanto aos manifestantes: os que vi são, na maioria, bem jovens _talvez tenham entre 18 e 25 anos. Aparentavam pertencer à classe média e morar longe das periferias (ATENÇÃO: não há, nessa observação, nenhum juízo de valor). Intrigaram-me especialmente a coragem e a convicção com que encaravam a reação da polícia. Algo de muito forte e genuíno parece movê-los, para além da reivindicação em torno do transporte público. Ainda não compreendi direito o que é.

Filmado pela amiga Denise Yui
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