– Somos vagabundos?
– Que pergunta besta! Vagabundos não têm nada para fazer. Nós temos. Apenas não fazemos.
– Somos vagabundos?
– Que pergunta besta! Vagabundos não têm nada para fazer. Nós temos. Apenas não fazemos.
“No tempo do ‘ficar’, quase nada fica.”
“- Quero minha pepeta!
– Agora?
– Agora.
– De tarde, filho? Você vai dormir?
– Não. Mas quero muito minha pepeta.
Ai, ai. Faço lembrar nosso combinado:
– Você já tinha largado de noite, eu te dei outra vez, mas era só pra dormir. Se eu te der agora, assim pra nada, quando é que você vai largar a pepeta, filho?
– No fim, mãe. No fim eu largo!
Levou. É claro, largar a chupeta é um processo – tem começo, meio e fim. Ele ainda não tinha chegado ao fim.”
Em terra de chapinha, quem tem cabelo crespo é rainha?
“querida ana,
não me espere
o trem saiu antes do que eu previa
meu coração ficou no bolso esquerdo
da frasqueira vermelha
ao lado do aparelho de barbear
cuidado quando for usá-lo
o amor deixa um cheiro terrível nas mãos
se tiver tempo
ouça ainda hoje aquele disco do Miles Davis
A Night in Tunisia tocou na minha cabeça
durante os últimos meses
e é o que está tocando agora
enquanto as rodas de ferro decepam
qualquer expectaviva que eu tenha de ficar
ana, não se entristeça
o tempo se encarregará de lançar poeira nos retratos
não seja estúpida
não telefone para alguém que somente lhe dirá
‘tudo vai ficar bem’
você sabe, ana, as coisas nunca ficam bem
quando trocamos nosso coração de lugar”
“Quando você deseja conversar com alguém, qual seu primeiro impulso? A resposta depende da sua geração, mas imagino que a maioria dos leitores, numa enquete informal, falaria: ‘mando email ou mensagem de texto’. A mais recente pesquisa de opinião do Estado da Flórida, onde a eleição presidencial americana pode ser decidida, revela que Mitt Romney tem vantagem apertada, de 48% a 45% sobre Barack Obama, mas só entre os que responderam pelo telefone fixo. Entre os que responderam por celular, Obama dispara, com 57%, ante 34% de Romney. Se o celular substituiu o telefone fixo, o smartphone promoveu a abolição da conversa vocal. Há três anos, uma chamada por celular nos Estados Unidos durava uma média de três minutos. Hoje, as pessoas desligam depois de pouco mais de um minuto. Quem poderia esperar que a comunicação escrita fosse se tornar tão informal e empobrecida? Podem me chamar de saudosista, mas quando recebo um SMS, como ‘saudades, vc quer pegar um filme no fds? bj’, suspeito que, mais do que as palavras, o afeto também foi abreviado. (…) Outro dia, telefonei para a casa de um amigo, que continua usando a secretária eletrônica, para agradecer por um convite, certa de que ele estava fora. Levei um susto quando ele atendeu, e confessei, sem graça: ‘Não esperava que você estivesse aí’. Ah, você telefonou porque não queria falar comigo, ele concluiu, com toda razão.”
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