terça-feira, 2 de setembro de 2014

Marina é o Lula de saia?

“Ambos filhos do Brasil, Lula e Marina provêm de Brasis bem diversos. E foi exatamente por causa de diferenças fundamentais de visões de mundo que, a certa altura, Marina não encontrou mais lugar no projeto do ‘lulismo’, usando a expressão do cientista político André Singer. A explicação para que a inserção de milhões de brasileiros, no governo Lula, tenha se dado pela via do consumo é complexa. Mas pelo menos uma parte dela pode ser encontrada no desejo de Lula. No que significa para um operário ascender na escala social. Casa melhorada, roupa boa, geladeira nova e cheia, TV de tela plana, um carro na garagem.
Lula não encarna o sertanejo com uma relação íntima com o sertão, entendido aqui como natureza e cultura. Mas o movimento de transição de um mundo decodificado como passado para um outro que é futuro. Ele é filho de uma família retirante que queria primeiro fugir da fome, depois subir na vida pelo ingresso na fábrica, pela via do ‘progresso’ e da industrialização. Vencer na vida no mundo do Outro, apropriando-se dele e tornando-o seu pelo acesso aos seus signos. É esse universo de sentidos que ele compreende e com o qual dialoga, talvez como nenhum outro político da história do país. E é para estes pobres que seu governo significou inclusão social.
Marina, não. Ela se cria na floresta e é moldada por ela. Seu pai, migrante nordestino, tinha naquela região amazônica um ponto de chegada. Mesmo quanto a família tentava sair, era para o seringal que acabavam voltando. A iniciação política de Marina se dá nos ‘empates’, uma tática de resistência na qual homens, mulheres e crianças se dão as mãos para fazer uma corrente em torno da área ameaçada e impedir o seu desmatamento – e, com ele, sua expulsão daquele mundo. O mentor de Marina é Chico Mendes e a luta ali, naquele momento, é expressão de uma relação profunda com a mata, na qual um não se reconhece sem o outro. É uma luta por permanência, não por partida.
O conhecimento que funda Marina, analfabeta até os 16 anos, está contido nessa cultura em que é preciso saber a vocação de cada pé de pau para dominar a tecnologia complexa que permite a sobrevivência, na qual a terra não é mercadoria, mas vida. Sua capacidade de fazer a ponte entre esse saber, transmitido de geração em geração pela oralidade, com a palavra escrita, os livros e a produção acadêmica, é um dos capítulos mais bonitos da sua biografia. Marina só vai chegar ao centro-sul aos 36 anos de idade, já como senadora. Seu movimento pelo mapa se dá com o objetivo de levar ao coração do poder político o universo de sentidos do mundo que deixou não como passado, mas para que possa ser futuro. Se para Lula a possibilidade de ascender está na inclusão no mundo do Outro, para Marina o Outro é aquele que se experencia para alcançar a si mesmo.
Não se trata de dizer que Lula é melhor do que Marina – ou Marina melhor do que Lula. Apenas assinalar que Lula e Marina, os fenômenos políticos mais interessantes da história recente do país, carregam experiências diferentes de brasilidades. Às vezes, as necessidades imediatas da disputa eleitoral borram as nuances mais fascinantes. Se a ascensão de Lula ao poder já produziu no Brasil, só pelo fato em si, uma enorme mudança simbólica, a de Marina ainda é potência e incógnita. A incógnita aqui não colocada como um defeito, mas como possibilidade.”

Trecho de Os Silva são diferentes, artigo de Eliane Brum

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Por que dividir

“Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar?
Infinita tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa no altar?
Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter teu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais
O amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar?”

Trecho de A Maçã, música de Paulo Coelho, Raul Seixas e Marcelo Motta
Interpretada por Zeca Baleiro

terça-feira, 2 de setembro de 2014

O ativismo dos inativos

Fazer selfies e trocar diariamente a foto do perfil é o que muitos entendem como participar da vida pública?

A partir de uma reflexão do jornalista Luiz Fernando Vianna

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Nada mais somos do que viajantes desnorteados?

“Estou sozinho, a morte é certa. Não estou em casa, estou em viagem – não sei de onde venho nem para onde vou. O que possuo, o que me resta? Eu mesmo.”
Trecho de O Escritor Montaigne, ensaio de Erich Auerbach

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Há ética entre os que se proclamam éticos?

“É justo, é correto, é bom fazer o bem por razões que não são as do bem? É certo agir corretamente, mas por razões tortas? Essa pergunta não é nova, mas é a que me ocorre quando me deparo com o desafio do balde de gelo. (…) Sem o prazer de ver famosos pagando mico não doaríamos? Ora, o que parece fazer mais sentido eticamente é: a satisfação de fazer o bem é o próprio bem. Deveria ser uma satisfação pura, independente dos resultados que proporcione. Isso é, bem sumariamente, Kant. Uma decisão ética não pode levar em conta os efeitos que ela terá – significando as vantagens ou desvantagens que trará, para todos, mas particularmente para mim. Dessa maneira se recortam, para usar uma linguagem mais recente, a esfera da ética e a da prudência. Ajo com prudência quando busco resultados positivos. Procuro a vantagem pessoal. Ou, na melhor das hipóteses, diante de uma injustiça percebo que reagir acarretará problemas sérios para mim, ou mesmo para o injustiçado, e procuro uma via indireta para reduzir danos. Já a ação ética não deve levar em conta o que ela há de produzir. Uma injustiça é uma injustiça, ponto, e deve ser confrontada.
Deixemos claro: a maior parte das pessoas, a maior parte das vezes, age (ou pensa agir) com prudência. Mas quem faz a diferença é a pequena minoria de pessoas – e ações – que responde a um clamor ético. Nosso mundo seria um horror não fossem os heróis que, de tempos em tempos, afrontam as potestades, deixam de lado a prudência (‘ho perduto la prudenza’, diz uma personagem do Don Giovanni, de Mozart) e partem para a luta. Muitas vezes sucumbem, mas, se a vida humana tem algum valor além do biológico, é graças a eles. O que seria a humanidade, não fossem esses faróis que abrem caminhos antes insuspeitos? Sem eles, teríamos escravidão, mutilação genital, subordinação das mulheres aos homens, dos pobres aos ricos, dos plebeus aos nobres, tudo isso que – pelo menos nos últimos 200 anos – vem sendo questionado e, ao ser vencido, melhora nosso mundo.
Ou seja, eu dar dinheiro porque um espetáculo semicircense me motivou não é ético. É uma diversão. Traz efeitos positivos, sim, porque o dinheiro vai para uma entidade (nem discuto aqui a entidade ou a causa, porque estou tratando do assunto em tese). Mas justamente o fato de me divertir e de serem bons os resultados caracteriza essa ação como não sendo ética. Não quer dizer que seja imoral ou antiética, tampouco. Apenas está fora do âmbito da ética. Possivelmente, traz ganhos para a causa. Será então vantajosa. Mas aumentará o que chamarei, com alguma impropriedade, de ‘teor ético’ na sociedade? Penso que não.”

Trecho de A ética no tempo do espetáculo, artigo de Renato Janine Ribeiro

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Saberei lidar com a hora de me recolher?

“Vou vender meu barco
Vou deixar de trabalhar
Eu já tô velhinho 
Não consigo mais remar
Vem uma onda de lá
Vem outra onda de cá
O meu barquinho parece que vai virar”

Trecho de Vou Vender Meu Barco, canção de Valentim dos Santos e Marinho Costa Lima
Interpretada por Lucas Santanna

E por Mestre Laurentino

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Uma rapidinha. Só que não…

HQ de Adão Iturrusgarai
(clique na imagem para ampliá-la)

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Dá para ser amigo do inimigo?

“Virou-se uma página na história da esquerda. Do confronto, ela passou à conquista de espaços públicos dentro de um novo tempo democrático que ajudou a construir. Entregou o anel da revolução para não perder os dedos que apontavam o futuro socialista. Teve início, então, o dilema sublinhado pelos grandes cientistas políticos: como fazer a crítica ao neoliberalismo sem um corte epistemológico com os paradigmas capitalistas? Basta limar os dentes da raposa para evitar que ela coma as galinhas?”

Trecho de A esquerda e a pauta das elites, artigo de Frei Betto 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Estômago de cachorro ou de avestruz?

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sabão em pó dos bons, hein?

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