“Minha mãe acredita que pessoas que contam os podres de outras pessoas se tornam, no momento em que os contam, mais podres do que as pessoas que estão julgando.
— Algumas coisas são mais feias na boca de quem diz do que na vida de quem faz.
Ela não imagina o quanto devo a essa frase.”
“quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência.”
E se o destino bater tarde demais à minha porta?
“No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.”
A garota, muito bonita e inflamada, usando a camisa da seleção brasileira, passa diante de dois rapazes que veem a manifestação contra Dilma em São Paulo.
– Que gata, hein?, comenta um dos moços.
– Lindíssima! Podia me apaixonar por ela, mas é coxinha. Quero distância!
– Eu idem. Não vou chegar nem perto. Gostosa filha da puta!
Enquanto observava a cena, me perguntei se estávamos mesmo na avenida Paulista ou na Verona do século 16. Será que, como em Romeu e Julieta, os Montecchios e Capuletos de hoje só irão se reconciliar depois de pagarem um preço alto demais?
Webmaster: Igor Queiroz