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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Além das ruínas

Houses live and die, relembro, olhando para as casas baixas cercadas, ao longe, pela barreira de edifícios: todo um memento mori. Não podia imaginar então, nos meus 12, 13 anos, quando eu mesmo era parte dessa paisagem; não podia imaginar que um bairro também envelhece. Não falo de se tornar antigo, pitoresco: digo velho, sujo, decadente, porque os donos das casas morreram e as viúvas como minha mãe têm quase 90 e não têm vontade de deixar entrar trabalhadores… E , no entanto, digo para mim, alguma coisa mais fundamental do que as casas sobrevive. Mas o quê?”

Trecho de Uma Mesma Noite, romance do argentino Leopoldo Brizuela

terça-feira, 11 de agosto de 2015

De más intenções, a bondade está cheia?

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Por que insistir em colher na época de plantar?

“Note
O que a gente nutre
Um dia desses repercute
Reverbera
Tome nota, escute
Toda espera tem seu ajuste
Note
Mas não se assuste
Toda noite tem seu lustre
O que não é pra já
Talvez seja pra Júpiter”

Trechos de Note, canção de Peri Pane e arrudA
Interpretada por Peri Pane

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Em que momento passamos da euforia à depressão?

“O Brasil está vivendo uma notória insatisfação, não só com o governo. Insatisfação com a falta de utopias, de perspectivas históricas, de ideologias libertárias. Desde junho de 2013, quando houve aquela grande manifestação atípica, porque não houve nenhum partido, nenhuma liderança, nenhum discurso. E foi uma enorme manifestação, em que as pessoas protestavam, havia protesto, mas não havia proposta. Isso chamou muito a minha atenção. E quando – isso é até terapêutico – a gente entra em amargura e não vê solução, não vê saída, a gente não consegue equacionar racionalmente o que está vivendo. Não consegue buscar as causas e as perspectivas. Fica tudo no emocional. Eu tenho dito a amigos que a minha geração vivenciou grandes divergências políticas na ditadura, mesmo entre a esquerda, divisão entre siglas de A a Z. Mas o debate era racional. Debatia-se em cima de projetos, programas, perspectivas históricas. Hoje, o debate é emocional. É como briga de casal em que o amor acabou.”

Do escritor Frei Betto

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Faz tempo que a fila anda…

Cartum de Fortuna
(clique na imagem para ampliá-la)

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O pior algoz é o que se imagina vítima?

Quadrinho de Rafael Campos Rocha
(clique na imagem para ampliá-la) 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Old school

Como é sua rotina diária?
Acordo cedo, por volta das 6h30, tomo café e levo as crianças para a escola. Na volta, ando na esteira e, depois, me sento à beira da cama para escrever com uma caneta e um caderno. Quando tenho o filme todo escrito dessa maneira, vou para a máquina de escrever, e essa é a parte que odeio, mas ninguém pode fazer por mim, porque minhas anotações nos cantos dos cadernos são incompreensíveis para alguém de fora. Datilografo uma cópia e vou para a cama de novo para ajustá-la.
Você não tem um computador?
Não. Uso a mesma máquina de datilografar desde que comecei a carreira. Tinha 16 anos quando a comprei por US$ 40. É uma Olympia portátil, que funciona bem até hoje. Só precisei mudar a fita nestes 60 anos.”

Do cineasta Woody Allen, em conversa com o jornalista Rodrigo Salem

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Apenas um falso brilhante

“O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.”

Trecho de Madrigal Melancólico, poema de Manuel Bandeira

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Democracia linha-dura

“O coronel Migdonio se dignou a sair à varanda.
‘Então vocês querem criar um sindicato?’
‘Se o patrão permitir’, respondeu Félix.
‘Quantos estão de acordo?’
‘Treze, senhor.’
‘Vá buscá-los. Quero falar com todos.’
Na vastidão da memória, ninguém se lembrava de que peão algum tivesse penetrado na casa grande. Cobertos por seus ponchos, os camponeses sentiam que se excediam, mas não tiveram remédio senão entrar.
‘Que desejam, meus filhos?’, perguntou Don Migdonio afavelmente.
Silêncio.
‘Não se constranjam. Não me oponho ao sindicato. Não, não me oponho. Pelo contrário, eu os felicito. Vivemos uma época de mudanças. Todos queremos o progresso. Brindemos ao sindicato!’
A um sinal do fazendeiro, um criado entrou na sala com uma garrafa e copos para todos.
‘Vou brindar com o copo vazio. É que ontem me excedi. Saúde, rapazes!’, bradou jovialmente Don Migdonio.
Jaramillo foi o primeiro a desabar. Tombaram outros três fulminados, e os demais revolveram-se na agonia de um retorcimento de tripas.
‘Filho da puta’, conseguiu dizer Félix, antes de borrar-se com as tripas queimadas pelo veneno. O juiz, doutor Francisco Montenegro, e o sargento Cabrera chegaram às seis horas da tarde escoltados por um piquete de guardas civis. Fecharam-se no escritório com Don Migdonio. O que o juiz, o fazendeiro e o sargento discutiram permanece até hoje em mistério. Para desmentir testemunhas que naquele distante ano de 1903 juraram ter visto os três saírem abraçados, rindo, os historiadores oficiais exibem uma prova irrefutável: um comunicado oficial das autoridades, informando que os catorze camponeses tinham sido fulminados por um ‘enfarte coletivo’.”

Trecho do romance Bom dia para os Defuntos, do peruano Manuel Scorza

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Separação

“Um oceano abstrato vem bater em nosso quarto.
É preciso cuidado, não são poucas e são altas suas ondas;
escuto, mas quem compreenderia a valsa
dos afogados, feita de uma boca intraduzível?
O vento dispersa o que eu diria, não chego a você,
a seus ouvidos; assim também minha mão
que desmorona antes de alcançar seu rosto onde
do que entre nós alguma vez foi nítido embaraçam-se
os fios; o vento derrama seus olhos para longe,
dessalga e seca nos meus a hipótese da queixa;
vento da noite, que espalha suas pedras negras
no imenso metro entre nós.”

Trecho de Isto, poema de Eucanaã Ferraz
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