Arquivo de março de 2015

quarta-feira, 18 de março de 2015

Feitos um para o outro, mas…

E se o destino bater tarde demais à minha porta?

quarta-feira, 18 de março de 2015

Por que nunca consigo me manter no presente?

“No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.”

Trecho de Acaso, poema de Álvaro de Campos

terça-feira, 17 de março de 2015

De carne, osso e dúvidas

“Mas que coisa é homem,
que há sob o nome:
uma geografia?
um ser metafísico?
uma fábula sem
signo que a desmonte?
Como pode o homem
sentir-se a si mesmo,
quando o mundo some?
Como vai o homem
junto de outro homem,
sem perder o nome?
E não perde o nome
e o sal que ele come
nada lhe acrescenta
nem lhe subtrai
da doação do pai?
Como se faz um homem?
Apenas deitar,
copular, à espera
de que do abdômen
brote a flor do homem?
Como se fazer
a si mesmo, antes
de fazer o homem?
Fabricar o pai
e o pai e outro pai
e um pai mais remoto
que o primeiro homem?
Quanto vale o homem?
Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos, velho?
Vale menos morto?
Menos um que outro,
se o valor do homem
é medida de homem?
Como morre o homem,
como começa a?
Sua morte é fome
que a si mesma come?
Morre a cada passo?
Quando dorme, morre?
Quando morre, morre?
A morte do homem
consemelha a goma
que ele masca, ponche
que ele sorve, sono
que ele brinca, incerto
de estar perto, longe?
Morre, sonha o homem?
Por que morre o homem?
Campeia outra forma
de existir sem vida?
Fareja outra vida
não já repetida,
em doido horizonte?
Indaga outro homem?
Por que morte e homem
andam de mãos dadas
e são tão engraçadas
as horas do homem?
Mas que coisa é homem?
Tem medo de morte,
mata-se, sem medo?
Ou medo é que o mata
com punhal de prata,
laço de gravata,
pulo sobre a ponte?
Por que vive o homem?
Quem o força a isso,
prisioneiro insonte?
Como vive o homem,
se é certo que vive?
Que oculta na fronte?
E por que não conta
seu todo segredo
mesmo em tom esconso?
Por que mente o homem?
mente mente mente
desesperadamente?
Por que não se cala,
se a mentira fala,
em tudo que sente?
Por que chora o homem?
Que choro compensa
o mal de ser homem?
Mas que dor é homem?
Homem como pode
descobrir que dói?
Há alma no homem?
E quem pôs na alma
algo que a destrói?
Como sabe o homem
o que é sua alma
e o que é alma anônima?
Para que serve o homem?
Para estrumar flores,
para tecer contos?
Para servir o homem?
Para criar Deus?
Sabe Deus do homem?
E sabe o demônio?
Como quer o homem
ser destino, fonte?
Que milagre é o homem?
Que sonho, que sombra?
Mas existe o homem?”
Especulações em Torno da Palavra Homem, poema de Carlos Drummond de Andrade
Interpretado por Sandra Corveloni

terça-feira, 17 de março de 2015

Interpretação de texto

terça-feira, 17 de março de 2015

Sou mesmo o que penso ser?

segunda-feira, 16 de março de 2015

Três jovens

A garota, muito bonita e inflamada, usando a camisa da seleção brasileira, passa diante de dois rapazes que veem a manifestação contra Dilma em São Paulo.
– Que gata, hein?, comenta um dos moços.
– Lindíssima! Podia me apaixonar por ela, mas é coxinha. Quero distância!
– Eu idem. Não vou chegar nem perto. Gostosa filha da puta!
Enquanto observava a cena, me perguntei se estávamos mesmo na avenida Paulista ou na Verona do século 16. Será que, como em Romeu e Julieta, os Montecchios e Capuletos de hoje só irão se reconciliar depois de pagarem um preço alto demais?

segunda-feira, 16 de março de 2015

Cría cuervos y te sacarán los ojos

Cartum de Hector Salas

segunda-feira, 16 de março de 2015

Quanto mal podem fazer os cidadãos de bem?

“A massa [que se manifestou ontem nas ruas do Brasil] odeia o PT, odeia a presidenta e odeia a corrupção do PT e da presidenta. Esse ódio é bem variado de fato: vai desde um grito pelo assassinato da presidenta, passando pelo golpe militar, resvalando na suástica nazista que tenebrosamente tremulava em Copacabana, até chegar ao cidadão chamado de bem, aquele que estava realmente protestando por um país melhor e pelo fim da corrupção. Só que isso, para mim, é uma pauta vazia, boba e mal direcionada, ainda que as pessoas tenham o direito de defendê-la. (…)  A pauta contra a corrupção é vazia porque todos nós somos contra a corrupção na frente dos outros. O corrupto é contra a corrupção. O imoral clama sempre por moralidade.
Acho que o cidadão que participou com boas intenções das passeatas deve ao menos ter a postura crítica de perceber o papel que lhe cabe como indivíduo dentro de um movimento complexo de massa. Refletir serenamente sobre seus ideais, seus valores e perceber se eles batem com o que a manifestação, no fundo, prega. Adolf Eichmann, tenente alemão responsável pela logística dos trens que levavam os judeus para os campos de extermínio, era um ser humano que foi engolido pela máquina nazista. No relato de Hanna Arendt em A Banalidade do Mal, ele era um burocrata estúpido que só cumpria ordens. O destino fatal dos judeus não lhe dizia respeito, ele apenas fazia o seu trabalho maquinalmente. Ele não tinha nada contra os judeus, apenas estava exercendo seu ofício. Eichmann é o retrato da falência do humano, do ser que se objetifica, que serve como peça num quebra-cabeça gigantesco que não se enxerga quando está nele.
Aos colegas que estiveram nas ruas, cuidado para não se tornarem uma mera peça. Estudem, leiam, reflitam sobre a realidade do país e a sua própria. Angustiem-se agora com suas escolhas e pensem sempre muito bem antes de se juntarem a uma multidão em que as vozes mais ferozes sobressaem e abafam as vozes humanas. Reflitam e entendam que não existe um inimigo. Existe uma estrutura corrupta que precisa ser reformada. E isso exige tempo e, principalmente, democracia para acontecer.

Trecho de uma reflexão que o psicanalista e jornalista André Toso publicou no Facebook

sábado, 14 de março de 2015

Há putarias de que a própria putaria se envergonha?

Cartum de Adão Iturrusgarai

quinta-feira, 12 de março de 2015

Posso ser mais do que tenho sido?

“Os homens estão me cansando. Acho que vou tirar um ano sapático.”

Da atriz Giovanna Velasco
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