sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Onde perdi meu coração?

“Eu sinto muito por não sentir nada.”

Trecho da peça Reality (Final), de Michelle Ferreira

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Podem existir fortunas moralmente defensáveis?

“Adão nasceu pelado
E nada é o que ele tinha
Me explica, me explica, vizinha
Como é que tem gente rica”

Trecho de Adão, música de Paulo Leminski
Interpretada por Estrelinski e os Paulera

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Os coelhos somos nós?

“Anedotas, ditados, máximas e piadas têm, digamos, uma narrativa axial de significado evidente – exemplo: coelho para a coelha: ‘Vai ser bom, não foi?’ – e significados radiais implícitos e/ou subevidentes. No caso do coelho e da coelha, o sentido da narrativa está na rapidez do enunciado ‘Vai ser bom, não foi?’. Coelhos são, notoriamente, animais sexualmente hiperativos, mas cuja conjunção carnal se completa em uma fração de segundo, justamente o espaço de tempo representado, na frase, pela vírgula. A quase justaposição do primeiro e do segundo segmento da frase, separados apenas por uma vírgula providencial, é que produz o humor da piada. A frase É a piada. São dispensadas informações secundárias tipo onde se deu o encontro do coelho com a coelha, detalhes (caráter, vida pregressa etc.) dos dois e do pós-coito – a coelha, por exemplo, se sentiu frustrada com a rapidez da conjunção, esperava algo mais romântico e preliminares mais prolongadas, ou já estava resignada ao sexo relâmpago típico da sua espécie e só esperava que pelo menos o coelho não tivesse ejaculação precoce, o que só encurtaria ainda mais o evento? Como o humor está na frase rápida e não inclui detalhes adicionais comuns em outras anedotas – que, geralmente, contêm uma história, um cenário identificável e personagens humanos -, o caso do coelho e da coelha requer muita atenção do ouvinte. Ele pode não entender da primeira vez. E, se quiser, pode buscar outras interpretações da piada, além do comentário jocoso sobre a vida sexual do coelho. A frase pode conter um comentário maior e mais abrangente sobre este tempo em que vivemos, em que passamos da antecipação do prazer para a crítica do prazer sem a etapa intermediária do prazer. O coelho e a coelha seriam um casal prototípico da era da ansiedade, do stress e da rapidinha.”

Trecho de Frases, crônica de Luis Fernando Verissimo

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Nunca a Pauliceia se revelou tão desvairada?

“São Paulo sem água é uma imagem poderosa. A cidade expandida em que mais de 20 milhões vivem à beira de um rio que matamos. A cidade que virou estufa, abarrotada por carros que se movem mais e mais lentamente, queimando combustíveis fósseis e lançando gases na atmosfera. A cidade que desmatou o entorno dos mananciais e desprotegeu-se. A cidade em que, quando a chuva cai, parece que evapora antes de chegar ao chão convertido em concreto e, nas tempestades, alaga e é destruída porque o cimento não pode absorver a água. As chaminés das fábricas do século 20 da São Paulo ‘que amanhece trabalhando’, assim como os canos de descarga dos carros de cada dia, são falos decaídos. As ilusões de potência e de superação, o sem limites da modernidade, viram pó na cidade imensa, transformando São Paulo num monumento que ela não sonhou ser – e nós em seres trágicos.”

Trecho de Vamos precisar de um balde maior, artigo de Eliane Brum

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Só o mundano pode nos levar ao Paraíso?

Num bar, em Olinda

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Juízo final

Mesmo que a Terra não passe da próxima guerra
Mesmo assim, valeu?
Valeu encharcar este planeta de suor?
Valeu esquecer das coisas que eu sei de cor?
Valeu encarar esta vida que podia ser melhor?

A partir de Valeu, canção de Paulo Leminski
Interpretada por Leminski e Kito Pereira

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Me dá uma gotinha aí?

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A desconexão dos conectados

O jovem de 20 e poucos anos escarafunchava minuciosamente o celular em plena Faria Lima, uma das movimentadíssimas avenidas de São Paulo. Usava fone nos ouvidos e, de costas para uma garagem, não percebeu quando um carro se aproximou com a intenção de sair. Mal avistou o rapaz que obstruía a passagem, o motorista parou e deu um leve toque na buzina. Não adiantou. O moço permaneceu imerso no smartphone, sem arredar pé de onde se encontrava. Intrigado, o motorista tocou novamente a buzina. O jovem, porém, continuou vasculhando a tela luminosa. Assim que a buzina soou pela terceira vez, o rapaz ajustou o fone. Um tanto confuso, julgou brotar dali o barulho que finalmente escutara. Em nenhum momento, fez menção de se virar para trás ou mesmo para os lados. Mantinha os olhos fixos no celular. O motorista, então, desceu do automóvel e pousou a mão direita sobre as costas do moço, tirando-o do prolongado transe. Sem jeito, o jovem coçou a cabeça, sorriu e prontamente abriu caminho. Foi quando o motorista me notou na calçada e disse: “Você acompanhou tudo, né? Como alguém pode estar tão longe estando tão perto?”

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Para viver mais e melhor, há que se escutar a morte?

“Hoje eu estou aqui
Por sorte, não por ser forte
Por que que sobrevivi, não sei
Sei que não foi blefe ou trote
Anteontem na UTI
Foi me visitar a morte
Mesmo sedado senti
Seu bafo no meu cangote
De susto, quase morri
Deu pânico, entrei em choque
Quando nas mãos dela eu vi
em vez da foice, serrote
Disse: ‘Vim te advertir
Somente pra dar uns toques
Burrice tentar fugir
Cuide-se bem, se comporte’
Daí desandou a rir
Do cateter, rir do corte
Passou a se divertir
Me dando croque e mais croque
Quando resolveu partir
Entregou-me um passaporte
Gritou antes de sumir:
‘Além de servir de mote
Vim ajudá-lo a assumir de vez
O seu lado pop
Então é só decidir se morte é mote
Pra funk ou xote'”

Anteontem (Melô da UTI), canção de Itamar Assumpção
Interpretada pela Banda Isca de Polícia

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Quão escassa pode ser a abundância?

“Tudo nos falta quando estamos em falta com nós mesmos.”

Trecho de Os Sofrimentos do Jovem Werther, romance de Goethe
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