“A aranha do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.”
Trecho de A Aranha, poema de Fernando Pessoa
“A aranha do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.”
Trecho de A Aranha, poema de Fernando Pessoa
“Uma galinha põe um ovo de meio quilo. Jornais, televisão, repórteres… Todos atrás da galinha.
– Como conseguiu essa façanha, dona Galinha?
– Segredo de família… – ela responde.
– E os planos para o futuro?
– Botar um ovo de 1 quilo!
As atenções se voltam para o galo.
– Como conseguiu tal façanha, seu Galo?
– Segredo de família… – ele responde.
– E os planos para o futuro?
– Partir a cara do avestruz!”
Da revista VIP (edição de abril)
“Cuidado, ele está solto por aí. É o homem-projeto, um onipresente. Está em todos os salões, lançamentos, vernissages, guichês de isenção fiscal, concursos da Petrobras, festas, restaurantes da moda, bares descolados, na praça Benedito Calixto (SP), na feira chique de produtos orgânicos do Leblon, no Baixo Gávea, em Porto Alegre, no Recife, Dragão do Mar em Fortaleza, Salvador… Com o aumento do contingente no exército de reserva, nem se fala, o homem-projeto começou a se multiplicar como gremlins. Uma praga.
‘Por falar nisso eu tenho um projeto…’
‘Acabei de inscrever um projeto…’
‘Estou preparando um projeto…’
‘Estou captando para um projeto…’
‘Copiaram o meu projeto…’
‘Puta projeto…’
O macho e a fêmea-projeto alimentam a paranoia delirante do plágio dos seus projetos. Alguém na sombra estará sempre copiando as suas ideias. Originalíssimas, diga-se. Fazem um mistério danado dos seus projetos. Quando contam, tudo não passa de algo tão novo quanto uma missa do galo, tão inédito quanto ‘no princípio era o verbo’.
Se tem algo que não se rouba em um país de obras inacabadas é projeto. Se há mais projetos que larápios, que sentido faz o rapto?”
Trecho de O Homem-Projeto, a Obra Aberta e o Macho Inacabado, crônica de Xico Sá
(o título do post é um trecho da canção Fora da Ordem, de Caetano Veloso)
“Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado
Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro
Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.”
O Constante Diálogo, poema de Carlos Drummond de Andrade
Dica de Georgia Barcellos
“Às vezes, quando vou ao centro da cidade
Evito, mas entro no mesmo bar que você
Nem imagino por quê
Se eu nem queria beber”
Trecho da canção Às Vezes, com Tulipa Ruiz
“Este poema
não chama a atenção
é igual a milhares
_ sequer por um momento
ilustra, apático, o passado
caça moscas
paga juros
(…)
víboras, ratos,
ladrões desprezam seu túmulo
uivam lobos de pelúcia
não tem futuro
(…)
não cria inimigos
não morre depois do ataque
não tem farpas
tolera o mundo”
Trecho de Este Poema, de Regis Bonvicino
“A beleza é uma lente que distorce. Ele tinha aquele tipo de fisionomia que é sempre recebido com sorrisos e apertos de mão, olhadelas extras, olhares que duravam um instante além do normal; um sorriso e um rosto que não eram esquecidos com facilidade. Até a forma como ele segurava o cigarro, ou como se inclinava para amarrar o sapato, tinha uma certa graça masculina que fazia com que as pessoas quisessem esboçá-lo. Que forma mais torta e confusa de viver. Receber ofertas de empregos, caronas e bebidas de graça _”É por conta da casa, querido”_, sentir o ambiente mudar enquanto o atravessa. Ser observado em qualquer lugar a que se vá. Ser alguém que as pessoas anseiam por possuir, e estar habituado a tal sensação; ser desejado tão imediatamente, com tanta frequência, que a própria pessoa nunca saberá o que ela mesma deseja.”
Trecho de A História de um Casamento, romance de Andrew Sean Greer
“Você já pensou nesse terror – oitenta e lúcido? Todo punk (dentadura, peruca e hemiplegia afetando aqui assim todo o lado esquerdo) e lúcido? Quando o bom dos oitenta é o pipi na sala e a mão na bunda das empregadas? E ocasionalmente também na de uma ou outra de vossas matronais progenitoras (hi, hi, hi! onomatopéia)?”
De Millôr Fernandes, que tem 86 anos e continua lúcido
“Pra sobreviver de arte em São Paulo
Tenta o Sesc, tenta o Sesc
Mas se o programador não for com a sua cara
Esquece, esquece
Pra sobreviver de arte em São Paulo
Tenta o PAC, tenta o PAC
Mas se acaso, no projeto, faltar CEP
Se estrepe, se estrepe
Pra sobreviver de arte em São Paulo
Lei Mendonça, Lei Mendonça
Mas se não tiver contrapartida social
Baubau, a água bebe a onça
Pra sobreviver de arte em São Paulo
Vai e tenta a Rouanet
Mas se o empresário fala em custo-benefício
Manda ele… se pentear!”
Trecho de O Retrato do Artista Quando Pede, samba do Duo Moviola
Dica de Thiago Melo
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