“Alguns suspeitam que a depressão contemporânea seja uma invenção. Uma vez achado um remédio possível, sempre é preciso propagandear o transtorno que o tal remédio poderia curar. Nessa ótica, a depressão é um mercado maravilhoso, pois o transtorno é fácil de ser confundido com estados de espírito muito comuns: a simples tristeza, o sentimento de inadequação, um luto que dura um pouco mais do que desejaríamos etc. De qualquer forma, o extraordinário sucesso da depressão e dos antidepressivos não existiria se nossa cultura não atribuísse um valor especial à felicidade (da qual a depressão nos privaria). Ou seja, ficamos tristes de estarmos tristes porque gostaríamos muito de sermos felizes. Coexistem, na nossa época, dois fenômenos aparentemente contraditórios: a depressão e a valorização da felicidade. Será que nossa tristeza, então, não poderia ser um efeito do valor excessivo que atribuímos à felicidade? Quem sabe a tristeza contemporânea seja uma espécie de decepção.”
– Saudades?
– Muita.
– Do que exatamente?
– Da tua ausência.
Quem de fato nos mata:
1. O bacon, a salsicha e a linguiça?
2. As indústrias, lojas e agências publicitárias que os produzem, comercializam e propagandeiam?
3. Os cientistas, que periodicamente elegem novos vilões gastronômicos e nos deixam ainda mais estressados?
“A advogada Beth Mange, que foi a manifestações contra o governo federal na Paulista, culpa Dilma e Lula pela crise e diz que se sente prejudicada. ‘Se antes comprava um presente de R$ 800, agora compro de R$ 300. Não sei até quando vou conseguir agir assim’, afirma, enquanto passeia na rua Oscar Freire.”
Gutto tinha apenas 3 anos e já frequentava a escola. Era uma instituição construtivista, que se orgulhava de proporcionar muita liberdade para os pequenos alunos. Certa manhã, a professora sugeriu à classe de Gutto desenvolver projetos pessoais. Cada estudante decidiria o que fazer em aula e passaria uns dias se dedicando àquela atividade. Gutto escolheu cavar um buraco perto do muro que separava o pátio e a rua. Ficou muitíssimo entretido na tarefa, o que chamou a atenção da professora. Quando o buraco exibia um tamanho considerável, ela finalmente lhe perguntou por que resolveu abri-lo. “Não percebeu ainda, professora? Estou tentando fugir da escola.”
“No Brasil, tem-se a impressão de que certas coisas só acontecem no país. Quantas vezes já ouvi: ‘Corrupção e impunidade como temos aqui não se vê na Europa’. É um narcisismo ao avesso que nos leva a crer que somos especialmente corruptos e degenerados. Tony Blair, um dos políticos mais importantes da história recente da Europa, o bom moço que ressuscitou o partido trabalhista britânico, invadiu o Iraque para depor Saddam Hussein e conquistar poços de petróleo. A desculpa esfarrapada eram as armas de destruição em massa – que comprovadamente nunca existiram. Mentiu para o seu povo, desrespeitou a lei internacional e, ao deixar o cargo, abriu uma firma de consultoria que tem como clientes, entre tantos outros governos ditatoriais e corruptos, os mesmos Emirados Árabes que se uniram a ele e financiaram a cruzada da hipocrisia anti-Saddam. A fortuna de Blair hoje é calculada em US$ 150 milhões. Trocando em miúdos: para cada Lula no mundo temos uma Odebrecht.”
Por que, hoje em dia, valorizamos tanto os recomeços, as reinvenções, os renascimentos? Há de fato muito que se refundar numa única existência? Por que já não nos deixamos seduzir pela continuidade, o fluxo, o ciclo, a correnteza? Por que preferimos interromper antes de terminar? Em que momento resolvemos nos entregar tão desesperadamente à fantasia de que seja possível não apenas procrastinar, mas sobretudo evitar o fim?
“Quanta inveja dos que naturalmente se dão bem nisso [a música], como se acordes e colcheias fossem seu idioma natal! É um talento mais misterioso, mais físico, mais inexplicável do que a capacidade para o desenho ou para a matemática. A matemática, queiramos ou não, é um subcapítulo da inteligência. O desenho diz respeito à qualidade da visão, mais bem distribuída do que a do ouvido. Como competir com os raros privilegiados que contam com o chamado ouvido absoluto, capaz de identificar na hora todas as notas de um acorde complicadíssimo? É como se, em música, a maioria da humanidade fosse daltônica.”
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