“Depois que a revista semanal Isto É foi às bancas na quinta-feira com os termos da delação premiada do senador petista Delcídio do Amaral, ex-líder do governo no Senado, autoridades federais das mais altas patentes iniciaram sua pregação contra o ‘vazamento’ [da informação]. Na visão delas, o que sai na imprensa sobre a corrupção praticada por réus mais ou menos ligados ao governo não decorre do trabalho de reportagem, de esforço de apuração, do talento e da determinação de profissionais maduros. Tudo resulta daquilo que servidores da Polícia Federal, do Ministério Público ou do Judiciário ‘vazam’ com as piores intenções deste mundo. Na visão dos adeptos desse discurso fanatizante do governo federal, repórteres apenas recebem passivamente o ‘vazamento’ e depois vão cuidar de estampá-lo nos jornais, com espalhafato e sensacionalismo, sem pensar nas consequências. Para as autoridades federais, jornalistas não investigam, não pesquisam, não entrevistam, não raciocinam, não escolhem, não hierarquizam as informações que publicam. Na narrativa oficial do Palácio do Planalto, que agora elegeu a entidade do ‘vazamento’ como a grande culpada pela crise brasileira, a imprensa não passa de uma central de ‘office boys’ a serviço da intriga, um bando de moleques de recados, um correio deselegante sem discernimento crítico e sem responsabilidade social. É assim que, quando falam em ‘vazamento’, essas autoridades ofendem o jornalismo.
Um bom exemplo dessa mentalidade pode ser encontrado na nota oficial da Presidente da República divulgada na quinta-feira. Vamos ao texto: ‘Os vazamentos apócrifos, seletivos e ilegais devem ser repudiados e ter sua origem rigorosamente apurada, já que ferem a lei, a justiça e a verdade. Se há delação premiada homologada e devidamente autorizada, é justo e legítimo que seu teor seja do conhecimento da sociedade. No entanto, repito, é necessária a autorização do poder Judiciário. Repudiamos, em nome do Estado Democrático de Direito, o uso abusivo de vazamentos como arma política. Esses expedientes não contribuem para a estabilidade do País’.
(…) Não há dúvida de que um agente policial que entrega a um repórter um documento sigiloso da instituição em que trabalha incorre numa prática irregular ou mesmo criminosa (quando essa conduta corresponde a um tipo penal devidamente descrito na lei). Um segredo policial deve ser guardado pelos funcionários públicos que trabalham com ele. Do mesmo modo, um segredo de Justiça deve ser mantido em sigilo por aqueles que, no poder Judiciário, dele se ocupam. Segredos de Estado, sob guarda do Executivo, são resguardados por mecanismos institucionais análogos. Quando um servidor do Estado, em qualquer esfera estatal, comete o deslize de contrabandear uma informação sigilosa a ele confiada, seu ato deve ser investigado, julgado e, se condenado, punido. Até aí, estamos todos de acordo. O problema começa quando estendemos o mesmo raciocínio para enquadrar os repórteres. Não dá certo. Essa lógica, que vale para o servidor público encarregado de tomar conta de segredos legalmente definidos como segredos, não vale para a imprensa. Ao contrário: se é papel do agente público zelar pela proteção de um ou outro sigilo, o papel da imprensa é o oposto. Ela deve – no sentido de ter o dever de – ficar de olho no poder e trabalhar para descobrir os segredos do poder. Ao descobri-los, deve avaliar a necessidade e a pertinência de torná-los públicos. Eis aí o núcleo do trabalho mais essencial da instituição da imprensa livre. O que é uma notícia senão um segredo revelado?”
“[Embora a vida esteja sempre mudando,] o ser humano se aferra de forma natural ao conhecido, ao previsível. À medida que nos transformamos em adultos, nos acostumamos a fazer as mesmas coisas e esperamos resultados que nos são familiares. Isso produz uma sensação de controle que nos acalma, mesmo se estivermos há muito tempo entediados com nossa rotina. Ignorar o que acontecerá equivale a sair do nosso lar para entrar num mundo imprevisível, sem saber o que ele nos proporcionará.
Aquilo que em psicologia se batizou como ‘zona de conforto’ foi definido por Brené Brown, pesquisadora social da Universidade de Houston, como o território onde a incerteza, a escassez e a vulnerabilidade são mínimas, ou seja, onde cremos haver espaço suficiente para o amor, a comida, o talento, o tempo ou a admiração. Resumindo: ‘Um lugar onde acreditamos ter algum controle’. Apesar de a vida estar cheia de imprevistos e de essa segurança que desejamos ser ilusória, ao abandonar a zona de conforto – por exemplo, em um novo emprego ou no início de um relacionamento – nos sentimos ansiosos e até mesmo estressados.
Já foi demonstrado, no entanto, que é justamente em situações desse tipo que a criatividade é potencializada. Do mesmo modo que o motorista que faz sempre o mesmo trajeto corre o risco de dormir por falta de estímulos e sofrer um acidente, enfrentar situações graves nos impulsiona a tirar o melhor de nós mesmos, já que nossos cinco sentidos estão dedicados a aprender com esse mundo desconhecido. No primeiro encontro com alguém de quem gostamos, a conversa adquire um nível de frescor e criatividade que depois, numa relação estável, fica difícil alcançar. Isso prova que a incerteza nos faz crescer.”
“A puta morreu.
Dois soldados e quatro velas
ficaram de plantão a noite inteira.
Algumas mulheres torraram o serviço,
foram espiar
– pra quem ficarão os vestidos dela?”
“O panelaço de hoje, aqui nas entranhas do monstro, o califado de Higienópolis, teve um toque digno de Federico Fellini. Um vizinho colocou caixas de som na janela do apartamento transmitindo a Internacional, célebre hino comunista, muitos decibéis acima dos paneleiros. Acho que sei quem é o autor.”
“Té que foi tão bom fugir e te esquecer
Não saber mais nem notícia de você
Com a tristeza consegui me entender
Com a saudade conviver
E com a dor não me doer
Mas aos poucos tive que reconhecer
Que a tristeza não parava de crescer
Tomou conta da cidade e do país
Tudo que é melancolia
Dizem que fui eu que fiz
É só chorar
Em Palmas, Teresina ou Jequié
Já vão avisar
Que a origem é a tristeza lá do Zé
Já não quero nem lembrar que te esqueci
Não sabia que a tristeza era assim
Que ela segue o seu caminho até sem mim”
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