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segunda-feira, 4 de abril de 2016

Há tanta diferença assim entre nós e eles?

“Leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi.”

Do poeta Torquato Neto

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Veterano?

“A gente acha que já viveu tudo. A gente nunca viveu nada.”

Do escritor e jornalista Xico Sá

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Falso testemunho

Lula e o fiofó do Ministério Público

A deputada governista Jandira Feghali ligou a câmera do celular e, em voz baixa, quase sussurrando, endereçou uma mensagem para os 409 mil internautas que a seguem no Facebook: apesar dos pesares, Luiz Inácio Lula da Silva continuava imbuído de “muita coragem” e mantinha intacta “a capacidade de guerrear”. Eram aproximadamente 13 horas do último dia 4 de março, uma sexta-feira. Figura-chave do PCdoB, a parlamentar se encontrava no Diretório Nacional do PT, em São Paulo, e gravou o vídeo de 27 segundos sem quaisquer preocupações formais. A política sobrepujava a estética. Em vez de ocupar o centro da tela, como recomendam as cartilhas do marketing eleitoral, Feghali estava mais à direita, a imagem sacolejava e um inoportuno foco de luz explodia acima da cabeça dela, lembrando uma auréola.
Pouco antes, Lula prestara o já célebre depoimento coercitivo à Operação Lava Jato enquanto a deputada iniciava uma reunião partidária na cidade. Tão logo lhe avisaram que a Polícia Federal fisgara o ex-presidente, Feghali rumou para o Aeroporto de Congonhas, onde o testemunho compulsório se desenrolava. Queria acompanhar o episódio de perto e denunciar os excessos contra “o maior líder popular do Brasil”. Desde as 8 horas, postava nas redes sociais vídeos curtos e indignados sobre o assunto.
O das 13 horas trazia o próprio Lula em segundo plano, bem recuado. O petista conversava com a presidente Dilma Rousseff pelo telefone. Embora se tratasse de um momento grave, uma nesga de humor involuntário inundou a cena. Justo quando, diante da câmera, a parlamentar afirmava que Lula enfrentara bravamente o depoimento e se mostrava tranquilo, o político soltava o verbo lá atrás. O áudio ruim possibilitava que os espectadores compreendessem com nitidez somente trechos do desabafo: “Eles que enfiem no cu… Dilma… tranqueira que ganhei…” Certamente, Lula mandara enfiar algo no fiofó alheio. Mas o quê? E de quem?
Na manhã seguinte, Iuri Dantas – editor-chefe do portal Jota – recebeu o vídeo pelo WhatsApp. Um advogado, informante costumeiro do site especializado em temas jurídicos, lhe encaminhara. “Assisti à declaração de Jandira Feghali e notei apenas que, no fundo do quadro, Lula falava um palavrão”, recorda Dantas. O petista usar termos chulos não é propriamente uma novidade. Por isso, o editor resolveu telefonar para o advogado: “O que há de importante no vídeo?” Soube então que, desde cedo, delegados e procuradores disseminavam a cena via aplicativo com um alerta: durante a conversa telefônica, Lula estaria tripudiando sobre a Lava Jato. “Eles que enfiem no cu todo o processo”, teria vociferado o ex-presidente. Em Brasília, onde mora, Dantas reviu a imagem mais de dez vezes e solicitou que a equipe do portal também a conferisse. “Ficamos realmente com a impressão de que Lula dizia ‘todo o processo’, apesar do som precário”, conta o editor. Ele mesmo se encarregou de redigir e publicar a notícia do impropério, tomando o cuidado de empregar um tom sóbrio.
Jota, que entrou no ar em setembro de 2014, dispõe de doze jornalistas e atrai mensalmente 1,2 milhão de visitantes únicos. Não apenas cobre o Judiciário como produz relatórios para clientes que se interessam por questões tributárias. Foi provavelmente o primeiro site noticioso a dar notoriedade à história, que até aquele instante tinha alcance restrito. Outros surfaram na onda: o Coluna Esplanada, o blog de oposição O Antagonista, os portais da Folha, do Estadão, do Globo, do Zero Hora, da Época… Em pouquíssimo tempo, o caso virou febre na internet e, claro, gerou piadas, debates e protestos.
Quando fez a gravação, a deputada não prestou atenção nas palavras de Lula, como atesta o comentário despropositado sobre a tranquilidade dele. Pega de surpresa pela avalanche que causara, divulgou nota rejeitando a exploração abusiva de um desabafo privado. Também retirou o vídeo de sua página no Facebook.
Passaram-se quatro dias e três promotores de São Paulo – Cassio Conserino, Fernando Henrique Araújo e José Carlos Blat – denunciaram o ex-presidente por ocultação de patrimônio e falsidade ideológica. Alegavam que o petista é o verdadeiro dono de um tríplex no Guarujá registrado como propriedade da construtora OAS. Aproveitaram a denúncia para solicitar a prisão preventiva do político, que estaria desrespeitando “as instituições do Sistema de Justiça” e, portanto, investindo contra a ordem pública. Entre as evidências do desrespeito, os promotores mencionaram a frase grosseira de Lula no vídeo. Ou melhor: a frase que a mídia e o zum-zum-zum digital garantiam ser de Lula.
Com a pulga atrás da orelha, a jornalista Cynara Menezes – responsável pelo blog de esquerda Socialista Morena – procurou dois especialistas em áudio e lhes pediu que analisassem a gravação. Nenhum cravou que o ex-presidente dissera “todo o processo” nem que não dissera. “Foi quando uma fonte me enviou um vídeo que aventava a possibilidade de Lula ter falado ‘todo o acervo’”, relembra Menezes, sem revelar o nome do santo.
Logo depois da conversa telefônica com Dilma, o petista concedeu uma entrevista coletiva em que, exaltado, reclamou “das tranqueiras” recebidas de presente enquanto imperava no Planalto. Durante o mesmo pronunciamento, referiu-se às tranqueiras como “acervo”. Por lei, os ex-presidentes devem cuidar de tal legado. O vídeo que chegou às mãos de Menezes chamava a atenção para uma coincidência significativa: tanto na conversa com Dilma quanto na entrevista posterior, Lula utilizara a palavra “tranqueira”. Havia, assim, um forte indício de que, ao telefone, o petista estivesse tratando do acervo, e não do processo.
No dia 11 de março, um post do Socialista Morena apresentou a hipótese e deu link para o novo vídeo. O site Brasil 247, pró-governo, rapidamente abraçou a tese, que acabou se confirmando em 16 de março, mal o juiz Sergio Moro liberou os grampos das conversas entre Lula e Dilma. Um deles trazia a íntegra do desabafo que Jandira Feghali captara parcialmente: “Eu tô pensando em pegar todo o acervo, eu vou tomar a decisão, e levar, jogar na frente do Ministério Público. Eles que enfiem no cu, que tomem conta disso. Ô, Dilma, é onze contêiner de tranqueira que eu ganhei quando eu tava na Presidência.”
Alguns dos que propagaram a frase errada se retrataram. Outros permaneceram em ruidoso silêncio.
(revista piauí)

terça-feira, 29 de março de 2016

Bandido bom é bandido eleito?

“Se a Odebrecht, de fato, divulgar tudo que sabe, teremos duas opções para decidir quem governará o Brasil. A primeira é reeditar o ‘Golpe da Maioridade’ de 1840 e eleger presidente alguém que ainda não tenha idade para ter feito nada de errado. Da última vez, deu certo: Pedro 2º foi um governante razoável. A outra alternativa é muito mais provável: decretar a menoridade penal do PMDB e da oposição, aplicar-lhes algumas medidas socioeducativas e incentivá-los a se reinserir na sociedade em alguma profissão respeitável, como a Presidência da República ou um ministério com um bom orçamento.”

Trecho de O golpe da menoridade, artigo de Celso Rocha de Barros

segunda-feira, 28 de março de 2016

Petulância

“Encontrei um sapo cochilando dentro de
Minha botina. Nunca me meti em botina
De sapo. Que liberdades são essas?”

O Lugar da Transgressão, poema de Cacaso

quinta-feira, 24 de março de 2016

É de menino que se gourmetiza o pepino?

“Hoje, existem hospitais VIP que oferecem a opção de parto ‘monetarizado’: a criança nasce numa banheira cheia de euro para aprender desde cedo o que significa nadar em dinheiro.”

De Tony Karlakian, personagem do humorista Marcelo Adnet que satiriza a elite paulistana

quarta-feira, 23 de março de 2016

O sonho acabou?

“Quando se analisam, à distância de séculos, tempos de incerteza e convulsão verifica-se, tantas vezes, que estes assinalam importantes avanços na História. As pessoas que acordaram em Paris, naquela manhã de 14 de julho de 1789, não podiam imaginar que os confrontos desse dia, que culminaram na tomada da Bastilha, iriam dar origem não só a mudanças políticas fundamentais, mas, mais importante, a alterações positivas de mentalidade, em particular ao enraizamento da noção de que todos os homens nascem livres e são iguais em direitos e deveres. Para muitos franceses aqueles foram dias de puro terror. Dias em que um mundo acabou. Mas hoje, olhando para trás, o que vemos é um mundo novo a começar.
Tempos como os que vivemos agora são susceptíveis de engendrar monstros. Contudo, também são capazes de gerar sonhos enormes e poderosos. Mais do que nunca é urgente revisitar utopias antigas e projetar novas. A célebre obra de Thomas More, Utopia, inspirou, entre outros, Pierre-Joseph Proudhon, um dos pais do anarquismo. Mesmo quem nunca ouviu falar em Proudhon conhece certamente a mais famosa das suas proclamações, ‘a propriedade é um roubo’, e muitos a repetem, ainda que a não compreendam. Algumas das ideias antiautoritárias de Proudhon são hoje mais atuais — e menos ‘utópicas’ — do que quando este as produziu.
O comunismo morreu e o capitalismo ameaça matar-nos a todos. A corrupção da classe política, as crises de refugiados, o aquecimento global, tudo isto são problemas decorrentes da própria natureza do sistema capitalista. É urgente procurar outros caminhos. Sonhar não é loucura. Loucura, hoje, é não sonhar.”

Do escritor angolano José Eduardo Agualusa

quarta-feira, 23 de março de 2016

Percebe, Ivair, a refrescância do cavalo?

Cavalo tomando banho

Minha contribuição ao mais novo meme das redes sociais

terça-feira, 22 de março de 2016

Naufragar é preciso?

Trilho

segunda-feira, 21 de março de 2016

Aonde o radicalismo à esquerda ou à direita nos levará?

“Nada mais parecido com um esquerdista fanático, desses que descobrem a nefasta presença do pensamento neoliberal até em mulheres que o repudiam, do que um direitista visceral, que identifica presença comunista inclusive em Chapeuzinho Vermelho. Os dois padecem da síndrome de pânico conspiratório. O direitista, aquinhoado por uma conjuntura que lhe é favorável, envaidece-se com a claque endinheirada que o adula como um dono a seu cão farejador. O esquerdista, cercado de adversários por todos os lados, julga que a história resulta de sua vontade. O direitista jamais defende os pobres e, se eventualmente o faz, é para que não percebam quão insensível ele é. Mas nem pensar em vê-lo amigo de desempregados, agricultores sem terra ou crianças de rua. Ele olha os deserdados pelo binóculo de seu preconceito, enquanto o esquerdista prefere evitar o contato com o pobre e mergulhar na retórica contida nos livros de análises sociais. O esquerdista enche a boca de categorias teóricas e prefere o aconchego de sua biblioteca a misturar-se com esse pobretariado que nunca chegará a ser vanguarda da história. O direitista adora desfilar suas ideias nos salões, brindado a vinho da melhor safra e cercado por gente fina que enxerga a sua auréola de gênio. O esquerdista coopta adeptos, pois não suporta viver sem que um punhado de incautos o encarem como líder. (…)  O direitista esbraveja por ver tantos esquerdistas sobreviverem a tudo que se fez para exterminá-los: ditaduras militares, fascismo, nazismo, queda do Muro de Berlim, dificuldade de acesso à mídia etc. O esquerdista considera o direitista um candidato ao fuzilamento. Direitista e esquerdista – os dois são perfeitos idiotas. O direitista padece da doença senil do capitalismo e o esquerdista, como afirmou Lênin, da doença infantil do comunismo.”

Trecho de O esquerdista fanático e o direitista visceral: dois perfeitos idiotas, artigo de Frei Betto 
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