Pense bem: nas últimas semanas, beatificamos um papa, casamos um príncipe, promovemos uma cruzada e matamos um mouro.
Pense bem: nas últimas semanas, beatificamos um papa, casamos um príncipe, promovemos uma cruzada e matamos um mouro.
“Quando me perguntam ‘e aí, tudo bem?’, eu respondo que sim, ‘tudo ótimo’, mas é mentira. Não está tudo ótimo, está tudo péssimo: faz um mês, minha mulher se apaixonou pelo Keith Richards – e não tenho a menor ideia do que fazer.
A paixão foi despertada pela biografia do guitarrista, que eu mesmo, num desses irônicos maus passos da vida, lhe dei de aniversário. Cazzo, como ia imaginar que o livro do mais feio dos Rolling Stones, aquele ex-pirata bexiguento, pudesse fazer brotar em minha amada – uma moça fina, discreta e, até então, equilibrada – semelhante sentimento? (…) Ninguém é menos Keith Richards do que eu. Nunca briguei. Não discuto nem com flanelinha. Aventura, para mim, é ir até o Sesc Belenzinho, num domingo. Se minha mulher caísse de amores por um escritor, por um arquiteto, um advogado, eu teria uma margem de manobra, talvez conseguisse mostrar que sou mais legal do que o outro, mas como competir com um cara que, aos 70, quebra a cabeça caindo de um coqueiro – e só se dá conta do estrago uma semana depois?”
– Sou assumidamente gay, como o Timóteo também é.
– Não sou, não!
– Ah, não é?! Nossa! Me desculpe…
– O frango está uma delícia, querida. Você me passa a receita depois?
– É peixe…
– Quem cala…
– Consente?
– Ressente-se.
Todo mundo sabe que um gato, quando despenca do telhado, sempre cai de pé. Já um pão com manteiga, caso despenque do mesmo telhado, certamente cairá com a manteiga para baixo. Isso significa que, se a gente amarrar um pão com manteiga nas costas de um gato e atirar ambos do telhado, o bichano flutuará?
“O jornalismo nativo teve uma semana infeliz. Ilustres colunistas e afamados comentaristas bateram duro em um livro, com base na leitura de uma das páginas de um dos capítulos. Houve casos em que nem entrevistado nem entrevistador conheciam o teor da página, mas apenas uma nota que estava circulando (meninos, eu ouvi). Nem por isso se abstiveram de ‘analisar’. Só um exemplo, um conselho e uma advertência foram considerados. E dos retalhos se fez uma leitura enviesada. (…) Disseram que o MEC distribuiu um livro que ensina a falar errado; que defende o erro; que alimenta o preconceito contra a norma culta e os que falam certo. Mas o que diz o capítulo?
a) que há diferenças entre língua falada e escrita. É só um fato óbvio. Quem não acredita pode ouvir os próprios críticos do livro em suas intervenções, que estão nos sites (não é uma crítica: eles abonaram a constatação do livro);
b) que cada variedade da língua segue regras diferentes das de outra variedade. O que também é óbvio. Qualquer um pode perceber que os livro, as casa, as garrafa seguem uma regra, um padrão. São regulares: plural marcado só no primeiro elemento; (…)
c) que há diferenças entre língua falada e escrita, que não se restringem à gramática, mas atingem a organização do texto (um teste é gravar sua fala, e transcrever; quem pensa que fala como escreve leva sustos);
d) que na fala e na escrita há níveis diferentes: não se escreve nem se fala da mesma maneira com amigos e com autoridades (William Bonner acaba de dizer “vamo lá sortiá a próxima cidade”. Houve outros dados notáveis nos estúdios: “onde fica as leis da concordância?” e “a língua é onde nos une”…);
e) deve-se aprender as formas cultas da língua: todo o capítulo insiste na tese (é bem conservador!) e todos os exercícios pedem a conversão de formas faladas ou informais em formas escritas e formais.
O que mais se pode querer de um livro didático? Então, por que a celeuma?”
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