“Toda expressão violenta intenciona escamotear a ausência de poder, de acordo com Hannah Arendt. O poder é atribuído pelo outro, não pode ser arrancado ou imposto a alguém. Os que se acham poderosos e se a autorizam a tripudiar vivem psiquicamente na condição impotente e a isso reagem com violência.”
“Assim como pimenta no uropígio do próximo é refresco (alieno culo piper refrigerium, no sábio dizer de Terêncio, ou Sêneca, ou Juvenal, ou alguém assim — ninguém vai checar), o trabalho alheio parece sempre mais fácil que o nosso. Há muitos e muitos anos, o famoso cronista José Carlos Oliveira, talvez o mais lido do seu tempo, de vez em quando levava a máquina de escrever para o bar. Lá pedia seu drinque e escrevia sua crônica. Um dia, um visitante deslumbrado foi apresentado a ele e comentou, emocionado:
— Se eu escrevesse assim como o senhor, nunca mais trabalhava!”
O tempo que se foi
– alguém duvida? –
é uma foice que
ceifa da gente
o tempo que nos resta.
Por isso há quem diga
foi-se o tempo
como se dissesse
foice, o tempo.
“Tudo que eu digo, acreditem
Teria mais solidez
Se em vez de carioquinha
Eu fosse um velho chinês”
“Miguel: Oi, Tereza, tudo bem?
Tereza (sentando): Tudo. O que que você queria falar comigo de tão importante?
Miguel: Quer tomar alguma coisa?
Tereza: Não, eu preciso voltar pro trabalho.
Miguel: Bom, não sei se você se lembra, mas faz uns três anos que a gente transou.
Tereza: Que que tem?
Miguel: Eu acho que chegou a hora de te falar. Você é mãe, Tereza.
Tereza: Como assim?
Miguel: Eu adotei um filho no dia seguinte da nossa noite.
Tereza: Quê?
Miguel: Eu acho que você tem o direito de saber.
Tereza: Pera aí, mas quem adotou o filho foi você.
Miguel: Adotei no nosso nome, Tereza. Aquela noite foi muito especial.
Tereza: Você tá maluco?
Miguel: Ele se chama Afonso, igual seu pai. Achei que você ia gostar.
Tereza: C…, Miguel! Esse filho não é meu.
Miguel: Agora é fácil falar.
Tereza: Foi você que adotou.
Miguel: A gente não usou camisinha, Tereza.
Tereza: F…-se. Eu uso pílula.
Miguel: Parece que não é 100%, né?”
“Em 28 de março de 1941, Virgínia Woolf encheu os bolsos de pedras e entrou no rio Ouse. O marido, Leonard Woolf, era obsessivamente meticuloso e manteve na vida adulta um diário no qual registrava todos os dias as refeições e a quilometragem do carro. Aparentemente, não houve nenhuma diferença no dia em que sua mulher se suicidou: ele registrou a quilometragem do carro. Mas, diz sua biógrafa Victoria Glendinning, a página dessa data está borrada, com ‘uma mancha amarela pardacenta que foi esfregada ou enxugada. Podia ser chá, café ou lágrimas. É o único borrão em todos os anos de um diário impecável’.”
Webmaster: Igor Queiroz