quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A desesperança é a última que morre?

“- As coisas não andam boas.
– Verdade. A coisa não anda nada boa.
– Por que você diz ‘a coisa’ e não ‘as coisas’?
– Porque as coisas diminuíram, diminuíram, e hoje só resta a coisa.
– Que coisa?
– Eu é que sei? Só posso dizer que a coisa está preta.”

Trecho de Diálogo dos Pessimistas, crônica de Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Na política brasileira, existem apenas convicções de ocasião?

“As últimas eleições mostraram que estamos prisioneiros da mitologia de que alguns são de esquerda e outros de direita, quando na realidade as coligações e os partidos são todos igualmente desideologizados.”

Trecho de Emancipação da política, artigo de Cristovam Buarque

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Pena máxima para a poesia?

“- alô, é o quampa?
– não. é engano.
– alô, é o quampa?
– não, é do bar do patamar.
– alô, é o quampa?
– é ele mesmo, quem tá falando?
– é o foca mota da pesquisa do jota brasil. gostaria de saber suas impressões sobre essa tal de poesia marginal.
– ahhh… a poesia. a poesia é magistral. mas marginal pra mim é novidade. você, que é bem informado, mi diga: a poesia matou alguém, andou roubando, aplicou algum cheque frio, jogou alguma bomba no senado?”

Trecho de alô, é o quampa?, poema de Chacal 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Somos ou não a Venezuela?

“Antipetistas alardeiam a ideia de que a reeleição de Dilma Rousseff abre caminho para o Brasil se tornar uma Venezuela. Isso é improvável. Apesar dos arroubos retóricos, Lula e Dilma nunca emularam o chavismo. Hugo Chávez trabalhou desde sua chegada ao poder, em 1999, para pulverizar tudo o que existia antes dele. A Venezuela mudou de Constituição e de nome, tornando-se república bolivariana. O PT nunca foi revolucionário, embora Lula defenda uma constituinte para a reforma política. O petismo permeia órgãos federais, mas nada se compara ao aparelhamento à venezuelana. Chávez fechou o cerco à oposição até sufocar os que tentaram um golpe de Estado contra ele. (…) Lula passou os dois mandatos construindo pontes _com a classe média, com o empresariado e com velhos rivais. Falta a Dilma essa veia conciliadora, mas ela manteve o arcabouço republicano e evita guerrear com a oposição. Dilma, aliás, reflete a institucionalidade brasileira. Apesar de sua força política, Lula resistiu à tentação de atropelar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Chávez não teve esses pudores. Enquanto o chavismo governa por decreto, o Planalto continua refém do Congresso. (…)
No Brasil, acusações de corrupção são investigadas e passíveis de cadeia. Na Venezuela, é impensável ver presos governistas do nível equivalente a José Dirceu e José Genoino. (…) Por ora, o que está mesmo dando ao Brasil ares de Venezuela não são os políticos nem o apertado placar presidencial, mas a banalização do ódio, propalada principalmente pelo eleitorado inconformado. A sociedade se deixou dominar pela intolerância. Redes sociais transbordam de aberração. A deslegitimação do ‘outro’ já gera violência física. Sinais de um país dilacerado entre metades surdas e irreconciliáveis. O maior risco de Venezuelização vem de nós mesmos.”

Trecho de Venezuelização?, artigo de Samy Adghirni

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Por que ainda gosto tanto de São Paulo se São Paulo é tão melancólica?

“Olha as pessoas descendo, descendo, descendo 
Descendo a Ladeira da Memória 
Até o Vale do Anhangabaú 
Quanta gente!
Vagando pelas ruas sem profissão 
Namorando as vitrines da cidade
Namorando, andando, andando, namorando
O céu ficou cinza e de repente trovejou
E a chuva vem caindo, caindo, caindo
Prendendo as pessoas nas portas, nos bares
Na beirada das calçadas 
Quanta gente! 
Com ar aborrecido olhando pro chão 
Pro reflexo dos edifícios e dos carros 
Nas poças d’água 
E pros pingos, pingando, pingando, pingando”

Trecho de Ladeira da Memória, canção de Zecarlos Ribeiro
Interpretada pelo Grupo Rumo em 1983

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Abstenção

– E então, rapaz, vai de Aécio ou Dilma?
– Eu não voto, mano. Jamais votei.
– Como assim? Você está querendo dizer que sempre anula o voto?
– Não! Estou dizendo que nunca vi uma urna de perto. Nunca botei os pés na porra do… Qual o nome do lugar em que a galera vota?
– Zona eleitoral.
– Pode crer. Não sei nem onde é a minha.
– Sério? Mas, pelo menos, você vai até os Correios para justificar a ausência?
– Vou o caralho! Nem pago a multa. Quem não justifica tem de pagar uma multa, não tem?
– Tem.
– Dane-se! Nunca paguei.
– E não dá merda?
– Que tipo de merda?
– Podem cancelar o seu título de eleitor.
– Beleza. Não preciso do bagulho mesmo…
– Mas há outras punições. Se você quiser tirar passaporte, não conseguirá.
– Fala sério, cabeção! Eu lá viajo para o exterior?!
– Se precisar de empréstimo num banco público, também não conseguirá.
– Tô cagando. Bancos me fodem de qualquer jeito, não importa se peço ou deixo de pedir grana emprestada. O negócio com banco é o seguinte: o banqueiro sempre lucra e o babaca aqui sempre sai no prejuízo.
Faz duas semanas que Claudio me procurou pelo Facebook para jogar conversa fora. O segundo turno da disputa presidencial iria ocorrer dentro de seis dias, e o papo acabou tomando o rumo incontornável da política. Grafiteiro e ilustrador, Claudio vive no Capão Redondo, distrito da periferia paulistana que ganhou certa notoriedade por causa dos Racionais MC’s. O mais influente grupo brasileiro de hip hop surgiu ali e, desde a década de 1980, costuma retratar o cotidiano do bairro nos raps que compõe.
Não lembro direito quando conheci Claudio. Foi em 2002 ou 2003. Só recordo que, na ocasião, ele enfrentava os sobressaltos da adolescência, agravados pelos percalços financeiros e pela tentação frequente de se tornar soldado do narcotráfico ou ladrão de carros, repetindo o destino de alguns jovens que o rodeavam. Uma família sólida e a índole pacata o livraram das “fitas ruins” e permitiram que terminasse o ensino médio.
Em dezembro, meu amigo completará 31 anos. Continua solteiro, não tem filhos e ainda mora com os pais – um técnico de manutenção predial, oriundo de Minas, e uma empregada doméstica baiana. Os três dividem um pequeno apartamento, já pago, e uma renda mensal que dificilmente ultrapassa os 1.500,00. Pelos critérios do governo federal, pertencem à nova classe média, nomenclatura que não os convence muito. Sentem-se menos pobres do que em outras ocasiões, mas ainda pobres.
– Você pensa que sou otário por não votar?
– Otário? Não… Já ouviu falar em Thoreau? Era um intelectual da gringa. Henry Thoreau. Ele defendia que as pessoas não deveriam pagar impostos nem votar se considerassem o Estado injusto. Chamava isso de “desobediência civil”.
– Uma espécie de protesto?
– Exato.
– E você concorda com o cara?
– Concordo mais com Platão, o filósofo grego. Conhece?
– Tô ligado no Platão.
– Ele dizia o seguinte: o problema de quem não gosta de política é que acabará governado por aqueles que gostam.
– Vixe! Matou a pau o Platão!                                   
Três dias depois, Claudio me acessou novamente pelo Facebook.
– Fiquei brisando no Platão, mano.
– Refletiu sobre aquela frase dele?
– Refleti à pampa. O homem entendia das coisas, né? Tenho muito que aprender com os pensadores da antiga.
– Decidiu votar, então?
– Sim. Percebi que não votar é coisa de orgulhoso, de gente antissocial. Tipo o coxinha que se julga melhor do que os outros. Quando deixo de votar, entro numas de bancar o superior e me coloco acima de todo mundo que sai de casa para escolher um candidato.
– Boa conclusão. E já resolveu se vai de Aécio ou Dilma?
– Vou apoiar a Dilma.
– Por quê?
– Porque morei em barraco de madeira na infância.
– Morou? Não sabia…
– Morei, truta! E quem viveu na favela não pode votar em playboy. É nóis!
Ontem, após uma semana sem notícias do meu amigo, tomei a iniciativa de chamá-lo pelo Whatsapp.
– Feliz com a vitória da Dilma?
– Não dei a mínima.
– Ué? Você não votou nela?
– Nem. Fui grafitar.
– Desencanou outra vez de votar? E aquele papo de orgulho, de gente antissocial?
– Depois da nossa conversa, troquei uma ideia sobre o assunto com uns colegas da quebrada, um pessoal que odeia política e também não costuma votar. Fiquei até com medo de levar um couro dos malucos: ‘Qualé, Claudio, vai ouvir blá-blá-blá de bacana?’.
– Eu sou o bacana?
– Para os meus colegas, sim… Eles continuaram buzinando na minha orelha: ‘Ô, feio, vai eleger vacilão? PT, PSDB, tanto faz! Tudo corja! Antissocial é quem aceita as regras do jogo sujo e diz amém nas urnas’.
– Por que você não contra-argumentou citando a frase do Platão?
– Citei, mas os caras responderam que a época do Platão já passou. Na periferia, a chapa é quente, brother! Não tem filósofo grego que segure a onda, não.
– Abdicando de votar, você perde a moral para cobrar os políticos.
– Cobrar o quê?
– Melhorias, ué. Na saúde, na educação, no transporte…
– Tá me tirando, mano? Você realmente acredita que tubarão vai ligar para cobrança de peixinho? Político só escuta a voz do dinheiro.
– Quanto pessimismo, velho!
– Pessimismo? Você precisa colar por aqui. Faz tempo que não aparece. Quando vier, a gente dá um rolê. Vou lhe mostrar o inferno…
– Sei do que você está falando. Já andei muito pela periferia.
– Desculpe, irmão, você não sabe. Uma coisa é visitar a quebrada, outra coisa é morar na quebrada. Você apenas imagina o inferno. Eu frito no caldeirão do demônio desde que nasci.
– E fritará para sempre?
– Para sempre, man! Nada vai mudar. A temperatura do caldeirão pode até diminuir um pouquinho dependendo de quem toca o barco lá em Brasília, mas o inferno jamais deixará de ser o inferno.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, Aécio ganhou de Dilma no Capão Redondo, tradicionalmente um reduto petista. Ele abocanhou 50,43% dos votos válidos. Ela, 49,57%.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Pai omisso

Se Deus criou o ser humano, por que não teve o cuidado de educá-lo direito?

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

E agora, como iremos nos livrar do vício?

“Entreouvido numa mesa do restaurante japonês Ohka, em São Paulo: ‘Chega de falar em política, não dá mais. Vou pra casa tomar um… Pronatec e dormir’.”

Da coluna de Sonia Racy, no Estadão

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Qual o pior crime: assaltar um banco ou fundar um banco?

Charge de Jean Galvão
A pergunta se baseia numa reflexão do dramaturgo Bertolt Brecht

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Supernanny

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