“Ê, marujo, ê
Que vive navegando
Te dou meu sofrimento
Pra jogar no oceano
Se der, no teu navio,
Leva mais um desengano”
Meu tio Leonildo, de 71 anos, recebeu o telefonema de um amigo que tem a mesma idade.
– O que você prefere, sofrer de Parkinson ou de Alzheimer?
– Está louco?! Não quero nenhum dos dois!
– Eu prefiro mil vezes o Parkinson, Leonildo.
– Por quê?
– Melhor derramar um pouco de vinho que me esquecer de onde guardei a garrafa.
“Durante o regime militar iniciado em 1964, as empreiteiras tiveram acesso direto ao Estado, sem mediações, sem eleições. Havia um cenário ideal para o desenvolvimento dessas empresas: a ampla reforma econômica aumentou recursos públicos destinados à construção civil e mecanismos legais restringiram gastos em saúde e educação, direcionando tais verbas para obras de que a iniciativa privada se apropriava – grandes projetos, tocados sob a justificativa do desenvolvimento nacional, como a rodovia Transamazônica, a usina de Itaipu e a ponte Rio-Niterói. A impressão que tenho é que as empreiteiras sentem saudades da ditadura, já que não existiam mecanismos de fiscalização de práticas corruptas. Elas não eram alvos de escândalos nacionais, porque isso não era investigado. Hoje, muitas mantêm práticas ilegais daquela época.”
Não bastasse o tanto que venho ralando para inventar a vida, agora me dizem que devo reinventá-la?
“Toda quarta-feira é dia de visitas na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Desde que foram presos os executivos das principais construtoras do país, na sétima fase da Operação Lava Jato, a quarta também se transformou no dia da ‘invasão’ de terninhos, saltos altos e óculos de grife. As mulheres, filhas e mães dos 14 presos chegam discretamente. Algumas carregam malas executivas, com pertences a serem entregues ao visitado. (…) [Ontem.] a única a destoar do grupo foi a mulher de José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da OAS. Acompanhada da sogra, ela respondeu aos jornalistas que ‘não estava autorizada a falar’. Na saída, com o nariz um pouco vermelho, se irritou com a presença de repórteres no saguão, apertou o passo, baixou a cabeça e mostrou o dedo para uma câmera. ‘Bando de urubus, fracassados. Isso que vocês são’, disse, enquanto andava em direção ao portão. ‘Se estudassem, não seriam jornalistas.’ Logo em seguida, outra mulher, que viu a cena, comentou: ‘Pelo menos não roubam’.”
“Eu já cai
Já tô no chão
E tô torcendo pra você ficar na merda
Como eu também estou nessa merda
Então por que não ficar aqui?”
“Pode ser que você tenha ido embora sem nem ao menos se despedir, por medo da solidão que sempre sobrevém aos desenlaces. Assim, sem um final que a legitime, sua ida não acontece, fica sem tradução, e nossa história resta pairando no espaço indefinidamente. Só então tiro seu retrato do quarto e ponho na sala, à vista de qualquer um. ‘Mas pra onde ele foi?’, me perguntam. ‘Não sei se foi… Talvez volte’, é tudo o que digo. Mas não volta, porque nunca aqui esteve. Fez igual beija-flor que nunca pousa.”
“- Que horas são?
– Não sei. Sou de Humanas.”
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