Chamo o médico ou os bombeiros?
– Querem saber? Eu tenho fé. (…) Vocês conseguem explicar o que é a fé? É crer incondicionalmente, independentemente das circunstâncias. A fé é entender que os fatos não transformam o mundo. É a fé que move tudo. Ela é verdadeira por mais absurda que seja.
– É preciso crer para viver? _ perguntou Genara, subitamente extasiada pela beleza primitiva, pelos cabelos louros presos no alto da cabeça, olhos azuis, mãos limpas da irmã caçula. Que sabia cortar muito bem as unhas. Que sabia recitar direitinho o catecismo. Parecia uma santa.
– Ninguém pode ser bom se não crê _ Júlia responde. _ Sem fé, seríamos umas cínicas.
– A fé pode virar cegueira _ Augusta zombou com seriedade. _ É melhor o cinismo.
Trecho do conto O Pai Eterno, de Carlos Fuentes
– Olha só… O senhor está vendo aquilo ali? No extremo sul da minha perna? Essa coisa que parece ser de carne e que se move para cima e para baixo? Tá vendo? Isso que estou mostrando com o dedo? Tá vendo agora?
– Ah, sim! Agora estou vendo… E me parece extremamente… curioso…
– Não é mesmo? Pois então: é um pé. Para ser mais precisa… o meu pé…
– Fantástico!
– Sim! E o senhor está vendo esses pequenos apêndices que saem dele? Somam cinco e se chamam dedos. O senhor sabia que eu consigo movê-los quando e da forma que eu quero? Tem um mais grosso. Eles estão em ordem decrescente de tamanho até chegar ao menorzinho…
– A senhora é fascinante! Nunca pensei que um dia poderia ter entre minhas mãos um pé de verdade! A senhora, uma criatura deliciosa, acaba de revelar para mim um universo novo de sensações… E olha que sou um homem maduro, que achava que já tinha visto tudo…
– Seja paciente, professor. Quem sabe eu possa lhe mostrar outras maravilhas…
Do humorista e cartunista espanhol Miguel Brieva
Há dias em que a manhã muito anoitece.
A partir de Eclipse, conto de Ana Santos
Webmaster: Igor Queiroz