Cartum do cubano Alfredo Martirena
“Viu João três vezes. João não a viu. No quarto encontro, achou jeito de lhe falar a sós.
_ Você é um homem diferente _ disse ela, debruçando-se sobre a máquina de escrever.
João, julgando ver-se, viu-a pela primeira vez.”
Trecho de Todos os Homens São Iguais, conto de Otto Lara Resende
“O morcego, pendurado em um galho pelos pés, viu que um guerreiro kayapó se inclinava sobre o manancial. Quis ser seu amigo. Deixou-se cair sobre o guerreiro e o abraçou. Como não conhecia o idioma dos kayapó, falou ao guerreiro com as mãos. As carícias do morcego arrancaram do homem a primeira gargalhada. Quanto mais ria, mais fraco se sentia. Tanto riu que, no fim, perdeu as suas forças e caiu desmaiado. Quando se soube na aldeia, houve fúria. Os guerreiros queimaram um montão de folhas secas na gruta dos morcegos e fecharam a entrada. Depois, discutiram. Os guerreiros resolveram que o riso fosse usado semente pelas mulheres e crianças.”
O Riso, crônica de Eduardo Galeano
“O tempo não tem feição
não tem cheiro e não tem cor
não tem som não tem sabor
voa sem ser avião
rouba mas não é ladrão
carrega tudo o que cria.
Tempo é vento que assovia
que passa e faz pirueta
e o vivente é borboleta
levada na ventania”
Trecho de Tempo II, canção de Siba
“Quatro bailarinas
depressinha
no vagão do metrô
gesticulam ansiosas e contentes
nos olhos de quem as espia”
Trecho do poema As Bailarinas, de Heitor Ferraz
“Os motoboys vão poder circular entre as faixas durante a corrida de rua que a Fórmula Indy realizará em São Paulo?”
Pergunta de Silvia Mekaru para a seção Barbara Responde, da Revista da Folha
Mesmo que nunca se aprenda
Eu te ensino a fazer renda
Que mais posso te ensinar?
Eu que não porto outra prenda
Que só sei dar vida à trama vã
Rei das belezas fugazes
Talvez te ensine a me ensinar
A partir da canção Tenda, de Caetano Veloso
“Prefiro a cultura à erudição. Cultura é um conjunto de conhecimentos que nos dá instrumentos para transformar a realidade. Erudição é um conjunto de conhecimentos cuja única utilidade é mostrar que temos… erudição. É a cultura inútil. Existem pelo menos três palavras na língua portuguesa com esse prefixo ‘eru’: erupção, aquela coisa desmedida, exagerada, arrasadora de um vulcão ou a erupção de um furúnculo; eructação, nada mais que um arroto; e erudição, eru-dicção, quando se sabe muito sobre um assunto e se fala, fala, fala. Nenhuma das três me interessa.”
Do ator Paulo José, a partir de um depoimento para o livro Memórias Substantivas, de Tania Carvalho
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