“Ele não escreve para ser entendido, mas para quem entender.”
De Millôr Fernandes
“Ele não escreve para ser entendido, mas para quem entender.”
De Millôr Fernandes
“Délibáb é um fenômeno extraordinário da planície húngara, tão semelhante às planícies do sul de nosso continente. Único em seu gênero, esse tipo de espelhismo transporta paisagens muito distantes a horizontes quase desérticos, reproduzindo ante os olhos maravilhados do observador, em dias de calor, o desenvolvimento de cenas longínquas. Quadros curiosíssimos que cobrem o horizonte em enormes projeções. E suas imagens são planas, nunca invertidas, nítidas, claríssimas. Esse fenômeno ótico é devido à retração desigual dos raios solares nas camadas de ar, de temperatura e rarefação distintos. A imagem passa por diversas regiões de atmosfera de diferente densidade até projetar-se sobre o horizonte da planície.
Um trem corre a toda velocidade, mas não se percebem ruídos da máquina, nem se escutam os apitos. Em realidade, tal cousa sucede porque o trem não está ali; talvez se encontre a mais de 100 km de distância. Mas o délibád o atrai ao horizonte…”
Trecho da enciclopédia Nosso Universo Maravilhoso, organizada por Ernesto Sábato e Eugênio Hirsch
– Seu cabelo é esquisito, tio.
– Por quê?
– Porque é prata.
– Você não gosta da cor?
– Não gosto. Prefiro cabelo preto ou branco.
Conversa com Isabela, minha sobrinha de 4 anos
“Tudo que era o meu destino
Na verdade nunca me aconteceu
Pode ter acontecido pr’alguma pessoa
Mas não era eu.
(…)
Ser assim tão sem destino me preocupa muito
Me deixa infeliz
Sempre quis o meu destino
Foi o meu destino que nunca me quis”
Trecho da canção Sem Destino, de Luiz Tatit
“Evite acidentes. Faça tudo de propósito.”
Aforismo do publicitário Carlito Maia
“Até hoje não se inventou nada melhor do que as narrativas para proporcionar algum sentido ao sem sentido do real. Não é o simbólico que faz efeito de verdade sobre o real, é o imaginário. O mar de histórias, lendas, mitos, fofocas, as mil versões que correm de boca em boca, ainda que mentirosas, ainda que totalmente inventadas, promovem um pequeno descanso na loucura que é estar nesse mundo sem bússola, sem instruções de voo, sem verdade, sem amparo. Desde que o renascimento abalou a narrativa hegemônica que a Igreja impôs ao homem medieval, as pessoas se lamentam de que o mundo perdeu sua antiga ordem. A modernidade, primeiro, pulverizou as grandes narrativas, depois tentou consolidar utopias mortíferas da razão e agora procura recobrir a face do mundo com imagens industrializadas. Mas ainda não foi capaz de inventar narrativas à altura da complexidade das forças humanas que ela própria liberou.”
Trecho do artigo A morte do sentido, de Maria Rita Kehl
“Pouso o olhar no retrato de minha mãe, com o olhar que acredito continuar o seu, porém ela não é minha mãe; minha mãe era um trejeito na boca, como quem faz o esforço de coser um botão; nunca existiu a minha mãe, não com a força que o passado, nesse tempo uno e eterno, nos traz e leva para a morte, e minha mãe não me comove sem que eu faça um esforço e diga: ali está minha mãe; e se não houver um jeito de crepúsculo, a rua molhada ou barulho de rádio, não há mãe; não há minha mãe sem os meus irmãos, sem a prosódia do Recife (…) ela já não é pessoa alguma e falo dela somente porque ela não é nem ausência, mas um pé de pau, uma rã, uma dor doce e boa, uma tolice da infância.”
Trecho de Sobre o Retrato de Minha Mãe, narrativa poética de José Almino
Webmaster: Igor Queiroz