“Fui procurado durante a ditadura por um censor que, em nome da Petrobras, me pediu que parássemos de criticar a empresa. Ele disse que já deveria ter pedido isso antes, mas que não conseguira me encontrar. Expliquei ao censor que o fato me preocupava bastante porque, se a Petrobras não havia conseguido me encontrar – eu, que tinha telefone, residência e local de trabalho conhecido -, como é que pretendia achar petróleo embaixo d’água?”
“Tinha que ser preto”, escrevem no Twitter sobre o lateral Marcelo e o gol contra que ele fez ontem enquanto peitava a Croácia.
Por que insistem em repetir uma frase tão batida e propagada entre nós há cinco séculos? Por que não postam reflexões mais novidadeiras? Do tipo:
Tinha que ser branco para comprar ingressos de até R$ 990, se juntar com outros brancos e lotar o Itaquerão na abertura de uma Copa organizada por um país onde metade da população descende de negros.
Tinha que ser branco para receber credencial VIP, adentrar de graça a arena do Corinthians e ainda filar uns petiscos oferecidos pelos patrocinadores da festa.
Tinha que ser branco para morar em São Paulo e só ir à periferia quando a Seleção estreia num torneio de gala.
Tinha que ser branco (e belga) para prescindir de carnavalescos mestiços e coreografar precariamente a cerimônia que inaugurou a competição.
Tinha que ser branco para avistar a presidente na tribuna de honra e gritar em coro: “Ei, Dilma, vai tomar no cu!”.
Tinha que ser branco para comandar a Fifa.
Tinha que ser branco para estar entre os jornalistas brasileiros que cobrem a Copa.
Tinha que ser branco para afirmar “tinha que ser preto” nas redes sociais e depois completar: “Longe de mim parecer racista”.
Tinha que ser branco para não ser o Neymar.
Confira aqui os ataques racistas contra Marcelo.
Como é possível confundir alhos com bugalhos se ninguém sabe o que são bugalhos?
“Sexo ou morte: eis a escolha.”
“Nós, os matusaléns – mas, afinal, que espécie de criatura é essa? -, nós, os mais velhos, aprendemos um ou dois truques, entre os quais o da invisibilidade. Estou conversando com amigos de confiança – velhos amigos, ainda que na verdade não tão velhos assim: estão na faixa dos 60 – e, enquanto matamos o vinho, discutimos um assunto sério, como o aquecimento global em Nyack ou o travestimento de Virginia Woolf. Aproveito uma pausa e falo alguma coisa. Eles me olham com cortesia e então retomam a conversa exatamente no ponto em que haviam parado. Como assim? Com licença? Não acabei de dizer algo? Por acaso deixei a sala? Ou tive o que os neurologistas chamam de AIT (Acidente Isquêmico Transitório)? Não era minha intenção dominar conversas, mas algum tipo de reação cairia bem. (…) Quando menciono o fenômeno a alguém na minha faixa etária, recebo acenos de cabeça e sorrisos de confirmação. É verdade, passamos a ser invisíveis. Estimados, respeitados e até amados, mas não mais interessantes a ponto de valer a pena prestar atenção em nós. Você já teve a sua vez, tio, agora é a nossa.”
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