José Simão

O cronista e humorista acaba de lançar o livro A Esculhambação Geral da República

Caso as circunstâncias permitissem, José Simão viajaria mais do que nécessaire de aeromoça. Ou só um pouquinho menos do que o Lula em oito anos de governo! Macaco Simão Urgente, no cipó das 11, sem escalas para o Taiti! O Haiti é aqui e o Taiti, já dizia o havaiano, é logo ali! Havaiano tira férias no Taiti. De havaianas! Rarará! Tempo e dinheiro, lamentavelmente, não brotam em árvore. Se brotassem, o humorista trataria de fazer uma boa colheita, pegaria o primeiro lotação e cruzaria o planeta. Jumbo, agora, virou lotação! Boeing 747 – mas pode chamá-lo de Topic! José Simão se derrete tanto por viagem que deviam tê-lo batizado de José Airlines. Certa ocasião, resolveu visitar Dubai. Sentiu-se no Salão do Automóvel 2030. Dubai é uma Hebe Camargo ligeiramente mais discreta. Rarará! Na porta de um shopping, avistou uma dondoca de véu. Muçulmana em Dubai esconde o rosto e escancara a carteira! O véu da madame reluzia. Um punhado de diamantes enfeitava o tecido liso. O cronista avaliou a situação e concluiu: “Preciso seguir essa perua. Vai que a fofa deixe cair umas pedrinhas. Fico rico!”

José Airlines atende por José Simão desde neném, ainda que muita gente desconfie. Como assim? José Simão e ponto? Não há mais nada no começo, no meio ou no fim? Um Eduardo, talvez? Um Toledo Pisa? Não, infelizmente não há. Na juventude, bastava escutar o próprio nome e se imaginava primo do Mazzaropi. Ou violeiro de dupla caipira – Zé Simão & Chico Bento. Gostaria imensamente de exibir um nome pomposo, à semelhança daquele deputado federal pelo Piauí, o Hugo Napoleão. Repare no gigantesco abismo que os separa: josé simão. HUGO NAPOLEÃO! Não dá nem para puxar conversa. Quem se aproxima de um Hugo Napoleão já sai perdendo. Rarará!
O sobrenome Simão, de origem libanesa, o remete à infância e às agradáveis tardes que passava na Brasserie Victoria, em São Paulo, cidade onde nasceu e se criou. Seu pai – Aniz, médico – conhecia a dona do hoje tradicionalíssimo restaurante árabe e o deixava sob os cuidados dela sempre que atendia um cliente ali perto. Enquanto o menino aguardava, dona Victoria e um grupo de mulheres se reuniam em círculo na cozinha para preparar quibes. Trajavam invariavelmente roupas pretas e amassavam a carne com as mãos nuas. A criança as observava, hipnotizada. Volta e meia, uma das senhoras lhe depositava na boca um pouco da iguaria. Olha o aviãozinho, habib! Vruuuuum! José Simão, o único macaco da Terra que é bom de bico! Tem garoto que cresce bebendo Nescau e devorando Baconzitos. Ele cresceu à base de quibe cru! Rarará!
Não sabe bulhufas de árabe, mas a família paterna dominava a língua, principalmente quando discutia. A parentada empregava o idioma de Drummond em tempos de paz e o de Bin Laden para quebrar o pau. Na casa dos Simão, havia a língua cotidiana e a língua-bomba! Rarará! A avó do humorista, aliás, se expressava em árabe ou português desde que não estivesse rezando. Católica maronita, professava o rito tradicional e adotava o aramaico na hora das orações. Nem Deus a compreendia!
O pai do Macaco? Clínico geral. O irmão do Macaco? Cardiologista. E o Macaco? Hipocondríaco! Mal ouve falar de uma doença, acusa rapidamente cada um dos sintomas. Hoje, por exemplo, arranjou uma colite daquelas. Câncer? Já enfrentou quatro ou cinco, todos imaginários. Se não está sentindo nada, engole um Tylenol só para garantir!
À beira dos 67 anos, preserva o corpo quase tão magro como o do passado. Lembra que, na década de 1970, o julgavam gostoso. Parecia um caniço e, mesmo assim, incendiava o quarteirão. Era um palito, mas de fósforo! Rarará!
Exercita-se habitualmente na academia de seu prédio. Também caminha logo cedo por ruas e alamedas dos Jardins, bairro nobre paulistano onde mora. No percurso, acena tanto quanto o Maluf em campanha. Inúmeros desconhecidos o abordam: “Ei, esculhambador!” O assédio não o incomoda. Muito pelo contrário. Quando ninguém se manifesta, ele próprio toma a iniciativa. Papeia com qualquer pessoa em qualquer lugar. Um dia, no supermercado, se tornou o melhor amigo de uma jovem que nunca vira antes nem veria depois. No momento da triste despedida, a moça perguntou se podia fotografar as compras dele. Pode, claro! Mas por quê? “Vou botar a imagem no Facebook!” Rarará!
Toda vez que a depressão ameaça inundá-lo, dá três pulinhos e recupera imediatamente o ânimo. Sério! Aprendeu a simpatia há séculos e, desde então, vem comprovando que o fundo do poço tem mola. Cultiva, ainda, outros dois comportamentos esquisitos. Jamais coloca bolsas no chão para não afugentar o dinheiro (a ideia de empobrecer o horroriza). Tampouco larga blusas, calças, cuecas ou camisas do avesso. Se largar, dificilmente escapará de uma desgraça. Entretanto, não se diz supersticioso. Considera-se um tipo muito especial de ateu – o ateu místico! Rarará! Do mesmo modo, identifica-se com o paradoxo do louco lúcido. Não bebe álcool, não usa drogas, evita noitadas, acorda às 6 e meia da manhã, conserva o apartamento dúplex arrumadíssimo e trabalha como um relógio, sempre cumprindo os prazos. Em compensação, interiormente, vive no caos. Recomenda colírio alucinógeno para todo mundo, mas abdica de pingá-lo pelo simples fato de que já nasceu alucinado.

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