Sentimentos que não ousam mencionar o próprio nome

“O grande bônus do smartphone é que essa coisa tão moderna acabou por recuperar um hábito muito antigo: a comunicação escrita. E escrevemos muito do que não temos coragem de dizer. Fala-se bonito pelas linhas. É charmoso. Arrisco afirmar que não ouviria no telefone as mensagens de fim de ano que recebi por escrito. E teria certo pudor de falar em alto e bom som as que mandei. Por que será que não conseguimos dizer muito do que conseguimos escrever? Por que o elogio cria um certo incômodo? O elogiado não sabe o que fazer, fica vermelho, os presentes se constrangem. Acho que o elogio foi tão usado como moeda de troca que sempre desconfiam de alguém que se propõe a elogiar assim, de peito aberto. Mas isso é uma longa conversa.
Na atmosfera de avaliação de relações, a que ainda nos rendemos a cada dezembro, o WhatsApp encorajou muita gente que estava quieta a manifestar o seu afeto. Diante do que nos tornamos, talvez tenhamos agora, ao alcance dos nossos dedos, o verdadeiro resgate das declarações de amor.”

Trecho de Modernas missivas, crônica da atriz Denise Fraga

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