Os que não estão comigo estão contra mim?

“Ganhe Dilma Rousseff, ganhe Aécio Neves, o novo presidente terá conquistado apenas metade do eleitorado brasileiro, ou seja, ficará à frente de um país dividido por discursos maniqueístas, que colocaram de um lado ‘pobres’, de outro, ‘ricos’; de um lado ‘sul-sudeste’, de outro, ‘nordeste’; de um lado ‘esclarecidos’, de outro, ‘ignorantes’: reduzindo a vida da nação a uma luta de tribos que se odeiam. Democracia é o regime que busca administrar os interesses divergentes da sociedade e, para isso, vale-se da negociação entre as partes. O que vimos, no entanto, nos últimos meses, foram candidatos surdos orquestrando seguidores intolerantes, que, imbuídos de fé messiânica, carregam a Verdade (com vê maiúsculo) em estandartes, transportando perigosamente para o campo da política procedimentos típicos de torcidas de futebol, ou, pior ainda, emulando simulacros de facções religiosas, que se alimentam de ódio e ressentimento. Nesse meio tempo, amizades foram desfeitas, amores chegaram ao fim, famílias se tornaram reféns do rancor. (…) Nós, brasileiros, confundimos adversário com inimigo. Talvez possamos atribuir essa incompreensão à nossa história política, uma sucessão de golpes de estado e ditaduras totalitárias, que moldaram o caráter nacional. Por mais que desempenhemos no dia a dia um papel de homens e mulheres cordiais, somos na essência autoritários – basta que nossa opinião seja contrariada para deixarmos cair a máscara da nossa simpatia e vestirmos o uniforme da intransigência.”

Trecho de A tirania do pensamento único, artigo do romancista Luiz Ruffato 

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