O impossível carinho

“Meu vô Laco era branco e leve, sentado à porta. Respirava baixo. Tinha nos olhos
resto de espanto: era cego. E no cegar sequer sabia a gente, na cadeira anoitecia, quieto, quieto, entre galinhas e sapos. (…) Era plácido também; inimigo do vento. Às vezes quis falar-lhe, dizer verso, dizer: vô Laco, o senhor lembra que são bonitas as galinhas? Dizer: vozinho, quer que eu te conte essa figura de revista? Não disse. Meu vô Laco era perecível. A gente ficava sem jeito de amá-lo.”

Trecho de Açúcar, conto de Ana Santos

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