No tempo da inocência

“Quando eu era pequena, não entendia por que o governo mandava todo mundo usar camisinha. Apareciam uns artistas na tevê repetindo a recomendação federal muito sérios, como se fosse uma questão de vida ou morte, e nunca explicavam ao certo o que havia de errado com o restante do guarda-roupa. E mais: qual o tamanho máximo do referido item da indumentária, em proporção ao torso do indivíduo? Qual a diferença entre camisinha, camiseta e camisola? Eu realmente imaginava cidadãos em trajes muito apertados, cumprindo seus deveres cívicos, e olhava desconfiada para os que andavam por aí com roupas folgadas. Um pouco mais tarde, encontrei umas edições velhas da revista Capricho e fui me instruir. Àquela altura, as crianças da rua já circulavam informações mais precisas sobre a origem dos bebês (sem repolhos ou cegonhas nessa equação), mas pairava uma certa dúvida sobre o verdadeiro significado de sexo oral: seria só ficar falando sacanagem ao telefone? Teria algo a ver com dentistas?”

Trecho da crônica Anfíbios Fazem, de Vanessa Barbara

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