Existe algo mais patético do que uma ditadura?

“A mulher (…) disse que nos iria acompanhar ao longo de toda a viagem pela Coreia do Norte e começou a dar informações que parecia já ter repetido muitas vezes antes. Explicou que íamos andar sempre acompanhados por dois guias norte-coreanos, que nunca podíamos estar sem eles em nenhum lugar e que não devíamos sob pretexto algum afastar-nos sem autorização, porque podíamos causar problemas muito sérios aos guias. Devíamos também acatar todos os seus pedidos, nomeadamente no que tocava a tirar fotografias e a filmar. As limitações para fotografar eram grandes e para filmar eram ainda maiores. Sobre este aspecto, pediu que tomássemos cuidado no momento de fotografar estátuas ou imagens dos líderes, pediu que nunca lhes cortássemos partes dos corpos. Os líderes deveriam sempre ser retratados de corpo inteiro, dos pés à cabeça. Se não o fizéssemos e se alguma autoridade nos pedisse para mostrar as fotografias, poderia haver aborrecimentos.
Explicou também que, no avião, nos iam dar um jornal em inglês, chamado The Pyongyang Times. Esse jornal tem sempre a imagem de um dos líderes na capa: Kim Il-sung, Kim Jong-il ou o atual Kim Jong-un. Então, demonstrando com um exemplar do jornal, ensinou-nos a forma de dobrá-lo sem dobrar a fotografia do líder. Esse detalhe já tinha trazido problemas no passado. Explicou ainda que em nenhuma circunstância devíamos colocar o jornal no lixo. Há pouco tempo, tinha acontecido um caso desses com um estrangeiro que deitara fora o jornal no seu quarto e que tinha sido denunciado pela empregada da limpeza. Essa situação só se resolveu com um extenso pedido de desculpas.”

Trecho do livro Dentro do Segredo – Uma Viagem pela Coreia do Norte, escrito por José Luís Peixoto 

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