Chegará o dia em que os eletrodomésticos irão nos domesticar?

“Imagine a situação. Você vai ao banheiro. Com pressa, sai sem lavar as mãos. Ao tentar abrir a porta, nota que ela se trancou automaticamente, e um alarme soa. Só então você entende: ou lava as mãos, pressionando a alavanca na saboneteira, ou a porta não se abrirá. Parece ficção, mas produtos assim já existem. O Safegard Germ Alarm é uma saboneteira que faz exatamente isso. Aciona um comando digital se percebe que você está deixando o banheiro sem lavar as mãos. Esse comando pode ser usado para qualquer coisa, como tocar um alarme ou trancar a porta.
Essa é uma das facetas menos visíveis da chamada ‘internet das coisas’: seu uso para controle social. Agora, objetos comuns irão se conectar à rede. Geladeiras, ventiladores, ferros de passar, fechaduras, carros, cadeiras e até nossas camas ficarão cheios de sensores observando nosso comportamento. Poderão agir automaticamente, tomando decisões. A geladeira avisará ao supermercado que o leite acabou. A cama contará ao plano de saúde que você está dormindo pouco.
Essa tecnologia não é neutra. Traz visões políticas embutidas. (…) Coloca sobre o indivíduo todo o peso e responsabilidade por suas ‘falhas’. Isso nos leva a ignorar as causas mais profundas para várias dessas questões, como pobreza, doenças ou ignorância. Nas palavras do escritor Eugeny Morozov: ‘A política deixa de ser uma aventura comum para se tornar um espetáculo individualista destinado ao consumidor, no qual confiamos aos aplicativos a busca de soluções sociais’.”

Trecho de O lado negro da internet das coisas, artigo de Ronaldo Lemos

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