Quem é aquela que me observa como se fosse minha mãe?

“Pouso o olhar no retrato de minha mãe, com o olhar que acredito continuar o seu, porém ela não é minha mãe; minha mãe era um trejeito na boca, como quem faz o esforço de coser um botão; nunca existiu a minha mãe, não com a força que o passado, nesse tempo uno e eterno, nos traz e leva para a morte, e minha mãe não me comove sem que eu faça um esforço e diga: ali está minha mãe; e se não houver um jeito de crepúsculo, a rua molhada ou barulho de rádio, não há mãe; não há minha mãe sem os meus irmãos, sem a prosódia do Recife (…) ela já não é pessoa alguma e falo dela somente porque ela não é nem ausência, mas um pé de pau, uma rã, uma dor doce e boa, uma tolice da infância.”

Trecho de Sobre o Retrato de Minha Mãe, narrativa poética de José Almino

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