Escritores não passam de uns esnobes?

“Darcy começou a falar, engraçada, pitorescamente. Curioso alguém se interessar em como ele havia vencido o câncer. Despejou tudo de uma vez, quase tudo. Ou: o trânsito ridículo de médicos estrangeiros que lhe escondiam a doença, dizendo tuberculose. Ridículos, principalmente em Paris, onde ele exigia ver e ouvir os resultados de todos os exames. (…) Então revelou, sem modéstia. Não acreditava em suas habilidades literárias a ponto de produzir algo útil ou de exemplaridade sobre o capítulo do câncer, provavelmente o mais cavernoso (uma caverna no peito) de sua vida.
– Mas se o senhor escrevesse como fala…
As pessoas não escrevem como falam. Comportam-se, disciplinam-se, empostam-se. Há imposturas, a naturalidade vai embora, ninguém perde a chance de parecer inteligente, espirituoso, um homem que, de certo, está acima dos outros.”

Trecho de Olá, Professor, Há Quanto Tempo!, reportagem de João Antônio publicada pelo Jornal Panorama em março de 1975, durante a ditadura militar.  A matéria tem como protagonista o antropólogo Darcy Ribeiro, que retornava do exílio para cuidar de um câncer no pulmão  

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