Arquivo de março de 2015

quinta-feira, 26 de março de 2015

Uma insignificância muito significativa

“Li o primeiro capítulo de Uma Breve História do Tempo quando o Pai ainda estava vivo e fiquei com as botas incrivelmente pesadas ao perceber como a vida é relativamente insignificante e como, se comparada ao universo e ao tempo, a minha existência não faz diferença nenhuma. Enquanto o Pai me botava na cama àquela noite e conversávamos sobre o livro, perguntei se ele podia imaginar uma solução para esse problema. ‘Que problema?’ ‘O problema da nossa relativa insignificância.’ Ele disse ‘Bem, o que aconteceria se um avião largasse você no meio do deserto do Saara e você pegasse um único grão de areia e o movesse um milímetro?’. Falei ‘Eu provavelmente morreria de desidratação’. Ele disse ‘Estou falando só daquele momento, quando você movesse o pequeno grão de areia. O que isso significaria?’. Eu falei ‘Eu não sei, o quê?’. Ele disse ‘Pense nisso’. Pensei naquilo. ‘Acho que eu teria movido um grão de areia.’ ‘E isso significaria o quê?’ ‘Significaria que eu movi um grão de areia?’ ‘Significaria que você transformou o Saara.’ ‘E daí?’ ‘E daí? O Saara é um deserto imenso. E existe há três milhões de anos. E você o transformou.’ ‘É verdade’, falei, me sentando. ‘Transformei o Saara!’ ‘E isso significa o quê?’ ‘O quê? Me diga.’ ‘Não estou falando de pintar a Mona Lisa ou achar a cura para o câncer. Estou falando somente de mover um milímetro aquele grãozinho de areia.’ ‘É?’ ‘Se você não tivesse feito isso, a história da humanidade teria sido de um jeito…’ ‘Hum-hum’ ‘Mas você fez, portanto..?’ Fiquei em pé na cama, apontei o dedo para as estrelas de mentirinha e gritei ‘Mudei o curso da história da humanidade!’. ‘Isso mesmo!’ ‘Mudei o universo!’ ‘Mudou.’ ‘Sou Deus!’ ‘Você é ateu.’ ‘Eu não existo!’ Caí de costas de volta na cama, nos braços dele, e rachamos o bico juntos .”

Trecho de Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, romance de Jonathan Safran Foer
Dica de Rafael Tonon

quinta-feira, 26 de março de 2015

Sobre a beleza de certas mentiras

“- O poeta continua a ser um fingidor e a poesia, um ‘fingimento deveras’?
– Ou é isso, ou é mentir desgraçadamente. Melhor continuar mentindo com alguma graça (isto é, fingindo, ficcionando).”

Trecho de uma entrevista com o poeta gaúcho Eduardo Sterzi

terça-feira, 24 de março de 2015

Pobre do amor que não ousa?

“Tá tudo padronizado
No nosso coração
Nosso jeito de amar
Pelo jeito não é nosso não”

Trecho de Mira Ira, canção de Karina Buhr
Interpretada pela própria Karina

terça-feira, 24 de março de 2015

Alvo errado

“O país está enfrentando uma crise bastante sentida e vão se escandalizar por causa do beijo casto de duas atrizes experimentadas, que têm quase cem anos?”

De Fernanda Montenegro, comentando a polêmica cena que dividiu com Nathália Timberg no início da novela Babilônia  

segunda-feira, 23 de março de 2015

Por que não babo o ovo para o modelo tradicional de família?

“Deus tava entediado, fez um curso de cerâmica e resolveu moldar um boneco. Soprou e deu-lhe vida. Vê que bafo da gota. Aí Adão entediado exigiu uma companheira. Vê a carência. Deus arrancou uma costela dele e, PAM!, Eva na área. Viviam eles com os bichinhos, sem trabalhar nem bater um prego num sabonete Dove molhado (ninguém reclama que o governo sustentava, né?), no maior paraíso. Só não podiam comer uma fruta que Deus proibiu, era dele. Vê a proteção de privilégios exclusivos.
Aí Adão e Eva, depois de usarem alguma ervinha mais aditiva, bateram um papo com uma cobra e resolveram desobedecer. Foram lá e mandaram a fruta pro bucho. Adão botou a culpa em Eva, que o havia seduzido, como se ele não fosse maior de idade. Vê o machismo, a criancice e a falta de responsabilidade em assumir os erros. Deus deu piti e expulsou eles do bem-bom. Viraram sem-teto por causa de uma fruta roubada. Vê a crueldade. A família perder hospedagem e ajuda de custo porque fez um ato que qualquer maloqueiro faz. No máximo, uma pena alternativa de replantar árvores.
Mas Adão e Eva tiveram de começar a ralar e ralar e rolar pra botar menino no mundo. Tiveram dois pirraias. Abel era todo limpinho, comportadinho, santinho, roupinha transada, cabelinho escovado e recebia os elogios. Caim era mais sapeca, desajustado, malamanhado e sobravam as lapadas pra ele. Ou seja, o mais rebelde, problemático, que deveria ter acompanhamento e mais atenção, era desprezado. O mais equilibrado era posto nas alturas, ganhava os afagos, o preferido até de Deus. Vê a meritocracia. Tinha de dar em merda. Caim, putinho com toda aquela babação com o irmão, foi lá e o matou. Resultado: condenado a vagar pela Terra sem eira nem beira, acabou arranjando uma mulher pra casar (sabe-se lá de onde ela veio. Num só tinha Adão e Eva? Vê a falha de continuidade da produção).
Aí vêm dizer que a família acima é o primórdio da tradicional. Pai e mãe fumaram um, alopraram, seguiram os conselhos de uma cobra falante e deram um vaitefudê no cara que lhes proporcionava casa, comida, jardim de inverno e vista pro mar. Vê a doidice. Criaram os filhos na base da diferenciação, sem ajudar nas angústias e nos anseios do mais problemático, que terminou matando o outro e fugiu de casa atormentado. Segundo consta, a humanidade inteira vive em sofrimento por causa das cagadas do casalzinho inicial. Vê o fracasso.
Melhor seria Adão e Ivo. Tinham adotado umas crianças, tavam todas bem vestidas, belos sapatos, o mundo seria bem melhor decorado e com melhores cortes de cabelo. Não faltariam festa lacrativa e Baphão. Sem falar nas baixíssimas taxas de desemprego. Todos teriam trabalho garantido na Chilli Beans.”

Do Facebook de Miguel Rios

segunda-feira, 23 de março de 2015

Quem avisa inimigo é

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sexta-feira, 20 de março de 2015

Como pode haver tanto e tão pouco em mim?

“Sempre que deseja compreender a sua posição no mundo, o homem vê-se colocado entre o infinito e o nada, na presença de ambos, impotente para decidir se pertence a um ou a outro. Erguido acima de todas as coisas, desce abaixo de cada uma delas; é o ser mais sublime e o mais rejeitado: tudo nele conjuga potência e impotência, grandeza e miséria.”

Do filósofo alemão Ernest Cassirer

sexta-feira, 20 de março de 2015

Jura que virei isso?

quinta-feira, 19 de março de 2015

Aquele que maldiz também está se maldizendo sem perceber?

“Minha mãe acredita que pessoas que contam os podres de outras pessoas se tornam, no momento em que os contam, mais podres do que as pessoas que estão julgando.
— Algumas coisas são mais feias na boca de quem diz do que na vida de quem faz.
Ela não imagina o quanto devo a essa frase.”

Crença, minicrônica de Fabrício Corsaletti 

quinta-feira, 19 de março de 2015

Uma hora, hei de me transformar num homem de respeito?

“quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência.”

Poema de Paulo Leminski
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