Arquivo de outubro de 2013

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A namorada tem namorados

Um caso muito peculiar de infidelidade

Num lugar tão repleto de estranhezas quanto São Paulo, poucas me parecem mais divertidas do que a “rave em câmera lenta”. É assim que alguns frequentadores da pequenina Rua Campo Alegre definem o pisca-pisca incomum da iluminação pública local. O endereço, no bairro de Pinheiros, reúne um par de botecos que, à noite, espalham mesas sobre as calçadas e atraem jovens ávidos por birita, papo-furado e xaveco. O maior dos estabelecimentos, inaugurado em 1957, se chama Bar das Batidas, mas todo mundo o conhece como Cu do Padre. Localiza-se, afinal, bem atrás da igreja Nossa Senhora do Monte Serrat. A área em nada se diferencia das zonas boêmias de qualquer metrópole, exceto por um detalhe: a principal lâmpada da ruazinha está com defeito e oscila sem parar, ainda que num ritmo muito preguiçoso. Fica 25 segundos acesa, apaga durante outros 25 segundos e acende novamente.
Numa quinta-feira de agosto, sob um dos longuíssimos momentos de penumbra, a moça que me acompanhava murmurou: “Tenho um segredo”. O tom cavernoso que imprimiu à voz me deu a sensação de que ouviria uma confidência grave, desconcertante e um tanto fora de propósito. Eu e Nanã (vou chamá-la desse modo, em alusão à deusa dos mistérios no candomblé) não nos julgamos propriamente amigos. Talvez nos encaixemos melhor na categoria dos velhos conhecidos. Balzaquiana de feições indígenas, alta e sinuosa, costumo encontrá-la para trocar banalidades, não revelações. Por que haveríamos de mudar agora as regras implícitas que nos guiam desde tempos imemoriais? Nanã preferiu não responder. Apenas se refugiou no breu intermitente e avançou: “Defendo a fidelidade, mas não sou fiel”. Sem problemas. Milhões (ou bilhões?) de criaturas se comportam do mesmo jeito: apregoam uma coisa e fazem o oposto. “O meu caso é diferente”, insistiu.
A escuridão, sem dúvida, a enchia de coragem para seguir adiante. Existia, porém, outro aspecto que a impulsionava: Nanã tomara bons copos de caipirinha e se esquecera de que o homem à frente dela permanecia sóbrio. Por motivos que ignoro (os extraídos da psicanálise me soam forçados), nunca liguei para álcool. Uísque, rum, vinho, cachaça, tequila, chope, nada atiça de fato o meu paladar. Tampouco aprecio a vertigem, o torpor e a alegria indomável que derivam da embriaguez. Em razão disso, não cultivo o hábito de beber – no máximo, beberico. Tal condição acaba me aproximando de gatos, onças e leopardos. À semelhança dos felinos, em incursões noturnas, vejo e ouço tudo muito claramente, para azar das trôpegas presas que me rodeiam. Pior: lembro-me de minúcias na manhã seguinte, e na seguinte, e na seguinte.
“Saio com dois caras de uma vez só”, continuou Nanã. O namorado e um reserva? De novo: não se trata de nenhum absurdo. Quem nunca pulou a cerca que atire o primeiro cinto de castidade. “Você não entendeu… Os dois são reservas!” Nanã, botafoguense roxa, estava querendo me dizer que não apenas dribla o titular como toca a bola para um duo de atacantes furtivos? “Exato! Mas dou os passes simultaneamente. Transo com a dupla de reservas na mesma cama.” Em outras palavras: um ménage à trois clandestino? “E duradouro…” Duradouro quanto? Cinco semanas? Três meses? Um semestre? “Doze anos.”
Se a memória não me trai, Nanã engatara quatro namoros sérios desde 2001. Com um dos pretendentes, quase se casou. “Adivinhe por que não juntamos os trapinhos? Porque nunca consegui me desvencilhar dos dois reservas. Sempre mantive a relação secreta em paralelo às assumidas.” Ela demonstrava se sentir mais confusa que culpada diante do enrosco. “Quando começamos o triângulo, estávamos os três solteiros. Éramos amicíssimos e o negócio rolou naturalmente, como se o imenso afeto que nos unia necessitasse transbordar. Hoje, penso que também agíamos por farra e para desafiar a rigidez da educação que recebemos de nossos pais. Acontece que a situação fugiu do controle. Tentamos nos afastar, mas não conseguimos. Ficamos dependentes uns dos outros. Você sabe: em tese, prezo a monogamia e não curto bancar a mulher fatal, daquela que seduz batalhões. Mesmo assim… Me ajude: como me livro dessa armadilha?” Questãozinha capciosa… E se Nanã saísse em separado com cada um dos reservas? Talvez descobrisse gostar mais de beltrano que de sicrano. “Já saí. Não adiantou. Só funcionamos juntos.” Então lhes resta apenas uma alternativa, ousei sugerir: oficializar o ménage à trois. “Será? Jamais cogitei a hipótese.” Por que não? Vivemos tempos tão revolucionários… “Deus do céu, acho que preciso de outra caipirinha.” Aproveitei e pedi uma para mim também. Naquele instante, compreendi que, em raras (raríssimas) ocasiões, a sobriedade deve ceder espaço à solidariedade.
(revista VIP) 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

E se Deus não for nada do que você imagina?

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Droga abortiva

“Costuma-se prescrever Ritalina para crianças questionadoras (que não se submetem facilmente às regras) e aquelas que sonham, têm fantasias e ‘viajam’. Com isso, o que estamos ceifando  no nascedouro? Os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de 1.000 anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por modificações. Quando impedimos isso quimicamente, segundo a frase de um psiquiatra uruguaio, ‘a gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro’.  Estamos dificultando, senão inviabilizando, a construção de futuros e mundos diferentes. Isso é terrível.”

Da pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Um caso para a Justiça do Trabalho?

HQ de Caco Galhardo
(clique na imagem quando quiser ampliá-la)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Beijo, abraço ou aperto de mão?

“Há alguns dias, estive em Cingapura participando de uma palestra organizada por um banco alemão para uma plateia formada principalmente por mulheres asiáticas. Embora estivesse a 11.200 quilômetros de casa e em um fuso horário de 7 horas, senti-me estranhamente confortável. Os grandes bancos são tão tranquilizadores quanto o McDonald’s. Ou seja, são iguais no mundo inteiro. Todos falam inglês, todas as mulheres usam os mesmos vestidos Diane von Furstenberg e carregam as mesmas bolsas elegantes.
Mas mesmo em meio a toda essa uniformidade, há uma coisa que se recusa a se globalizar: a maneira como as pessoas se cumprimentam. Várias vezes me vi perdida na semana passada. Deveria dar um beijo na mulher americana em cuja casa eu acabara de jantar? Quando tentei, ela recuou com um sorriso e me deu um boa noite amigável. Mais complicado ainda foi decidir como cumprimentar um grupo formado por uma mulher indiana, um homem chinês e uma mulher australiana. Sem saber o que fazer, os quatro decidiram deixar as saudações de lado.
Esse tipo de coisa sempre foi um problema, mas está piorando. Antigamente, o princípio era ‘quando em Roma, faça como os romanos’. Portanto, quando em Roma, dávamos um beijo em cada lado do rosto das pessoas que conhecíamos razoavelmente bem. Na Holanda, eram três beijos nas bochechas. Na Rússia, você pode esperar um abraço de urso, no Japão, uma inclinação para a frente e, na Índia, mãos juntas e um ‘namaste’. Nos Estados Unidos e na Alemanha, temos um aperto de mão do tipo esmaga ossos. No Oriente Médio, algo mais parecido com um aperto de mão delicado. Mas a globalização dos negócios tornou as coisas mais complicadas. Não sabemos mais quais culturas prevalecem sobre as outras. É a do país anfitrião? É a da maioria das pessoas na sala? Como ninguém sabe, o que tende a acontecer é uma confusão geral, uma ‘luta livre’ embaraçosa. Vivemos em um estado de tensão permanente no que diz respeito aos cumprimentos.”
Trecho do artigo Cumprimento em encontros globalizados são um inferno, de Lucy Kellaway
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