Se fico? Anseio pelo desconhecido. Se parto? Dói-me a separação.
A partir de uma reflexão de Millôr Fernandes
“Mariana, Mariana
Cadê tua saia branca
Teu vestido de ramagem
Cadê teu sorriso triste
Cadê tua meia bege
Teu sapato de verniz
Cadê teus olhos zangados
Censurando o que eu não fiz?”
Trecho da canção Mariana, Mariana, de Edu Lobo e Ruy Guerra
Dica de Mariana Delfini
A minha língua
anda à mingua
sem tua boca?
A partir da canção A Cor do Desejo, de Júnior Almeida e Ricardo Guima
“- O que é que você quer?
– Não quero nada, respondi. Quero o que as coisas quiserem.
– Ninguém pode passar sem querer. Está com medo de querer o quê?”
Trecho do conto Daruma Arigatô, de Paulo Leminski
Criamos as línguas sob a ilusão de que poderíamos, pela palavra, dominar e esculpir a realidade.
Algo, no entanto, deu errado. Não só a realidade se opôs à nossa pretensão de domínio pleno como os próprios idiomas se revelaram incontroláveis, seguindo caminhos tortuosos que muitas vezes flertam com o nonsense. É o que demonstra o recém-lançado Dicionário de Expressões Coloquiais Brasileiras, do professor carioca Nélson Cunha Mello. Tão útil quanto saboroso, o livro publicado pela Leya esclarece a origem de inúmeros termos e frases que empregamos cotidianamente, não raro sem nos perguntar se de fato fazem sentido. Cinco exemplos:
* Por que, afinal, dizemos que um objeto exibe a estranhíssima “cor de burro quando foge”? Alguém já viu um burro mudar de cor assim que sai em disparada? Cunha Mello explica que a expressão é uma corruptela e deriva, na verdade, de uma afirmação nada absurda: “corro de burro quando foge”.
Da mesma maneira,
* “enfiar o pé na jaca” advém de “enfiar o pé no jacá”, uma espécie de cesto;
* “estar com bicho-carpinteiro” descende de “estar com bicho pelo corpo inteiro”;
* “ir para cucuia” provém de “ir para o cemitério da Cacuia”, um bairro na Ilha do Governador (RJ) e
* “quem tem boca vai a Roma” decorre de “quem tem boca vaia Roma”.
“Chegará o dia em que as torres coroadas de nuvens, os palácios resplandecentes e mesmo o globo imenso e tudo quanto lhe pertence vão desaparecer sem deixar rastro. Somos dessa matéria de que os sonhos são feitos, e a nossa vida breve é circundada pelo sono.”
Trecho da peça A Tempestade, de William Shakespeare
“Chacrinha é do tempo em que favela era favela. Não tinha esse eufemismo tolo de dizer comunidade. Não disfarçava o brega, que se assumia em sua plenitude. Apostava na mistura. Elymar Santos usava o mesmo microfone que Caetano Veloso. Raul Seixas ocupava o mesmo picadeiro que Wanderley Cardoso. Aquilo era a diversidade e não a separação mercadológica da audiência. E não era intenção maquiada de bom mocismo, era a esculhambação pelo prazer da diversão. O possível herdeiro da pança que balança, Faustão, não se perdeu na noite e fincou o pé nos domingos tornando-os piores que uma enfadonha segunda. Mauricinho de camiseta polo, colocou terno no pagode e casaco de couro no sertanejo. Chacrinha era feira livre e Faustão é shopping center.”
Trecho do artigo Chacrinha ainda buzinaria a moça e comandaria a massa?, de Hugo Possolo
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